Parte 7/7
Em casos mais práticos e que se relacionem directamente com o Cinema na forma de criação, temo que pouco mais haverá a dizer. Não existe uma fórmula nem existe um método para transmitir a emoção através da imagem. É puramente um acto instintivo, cada um faz (ou deverá fazer) da forma que considerar mais correcta. Não é uma tarefa fácil, pelo contrário, é um acto comum a toda a arte: da mesma forma que um pintor imprime a sua emoção numa tela, que um escritor imprime nas palavras ou que um bailarino imprime nos movimentos, o realizador terá que imprimir também o que sente naquilo que filma. Poderá ter o auxílio de elementos adicionais que em muito contribuem para isso – uma banda sonora exemplar ou bons actores que se saibam exprimir –, mas tudo vai acabar por se resumir a isso mesmo: a emoção só chega ao espectador se o realizador a imprimiu previamente no filme.
A primeira exibição que fiz para um público foi na cidade de Braga, a convite da organização de um evento cultural para uma Escola Secundária. Percebi que grande parte do público que ia ter seria muito jovem e imaginei que ia ser difícil fazer-lhes chegar o meu trabalho – ia passar um conjunto de 4 filmes baseados em poemas. Como antevi isso, optei por escolher a ordem com que os 4 filmes iam ser exibidos e assim, em primeiro lugar, escolhi o filme que achava que eles não iam gostar nada; em segundo lugar, ficava o filme que iam gostar um pouco mais e assim sucessivamente, até ao quarto filme, que eu achava que iria ser o mais apreciado. Ora, esta foi uma escolha totalmente instintiva e que podia tanto dar para o lado certo como para o lado errado. A minha ideia era deixar para último lugar o filme que certamente ia chamar mais a atenção por parte dos jovens, porque as últimas memórias são sempre as decisoras e as que ficam mais facilmente gravadas, se me faço entender. Felizmente, depois de alguns burburinhos, falatórios e algumas faltas de interesse durante quase toda a projecção, chega o momento em que sou eu a pôr as cartas na mesa. Foi precisamente nesse momento que senti a sala a silenciar-se, a demonstrar um súbito interesse pela projecção – não digo qual era o filme para não influenciar opiniões – e isso deixou-me extasiado de alegria porque tinha conseguido atingir o meu objectivo com aquela sessão – captar o interesse de um público muito novo. Muitos dos jovens não sabiam quem eu era e ouvia-os, logo ao primeiro filme, a perguntarem o que seria “aquilo”. No final, os que disseram “aquilo” foram os primeiros a dizerem entre si que “até estava bom”… Creio que se a sequência da exibição tivesse sido outra eu tinha saído de lá sem que houvesse uma pessoa a gostar da sessão. Foi uma opção que acabou em bem, mas nem sempre isto acontece. Depois desta, tive outras exibições, com outros filmes, umas correram bem, outras nem tanto. Tudo depende de um público, ele é o elemento crucial para a avaliação de um filme. Se conseguirmos chegar até esse público com o nosso trabalho temos um objectivo completo, mas essa é uma tarefa que cada vez é mais difícil de concretizar. Acima de tudo, acho que não nos devemos preocupar em fazer um filme ou em dirigi-lo, emotivamente, para um público em particular. No fundo, o que importa é sermos fiéis aos nossos princípios e aos nossos instintos e guiarmo-nos por eles.
É um pouco isto o que tenho vindo a aprender por experiência própria. Não há muitos conselhos que possa dar quanto à materialização da emoção através do Cinema. Muitos filmes já o conseguiram, muitos ainda o conseguirão. Apesar de tudo, não nos podemos esquecer que o tempo é sempre o Juiz final, o decisor soberano de qualquer memória ou sentimento: hoje podemos não causar emoção, mas quem sabe o que acontecerá daqui a alguns anos…
A primeira exibição que fiz para um público foi na cidade de Braga, a convite da organização de um evento cultural para uma Escola Secundária. Percebi que grande parte do público que ia ter seria muito jovem e imaginei que ia ser difícil fazer-lhes chegar o meu trabalho – ia passar um conjunto de 4 filmes baseados em poemas. Como antevi isso, optei por escolher a ordem com que os 4 filmes iam ser exibidos e assim, em primeiro lugar, escolhi o filme que achava que eles não iam gostar nada; em segundo lugar, ficava o filme que iam gostar um pouco mais e assim sucessivamente, até ao quarto filme, que eu achava que iria ser o mais apreciado. Ora, esta foi uma escolha totalmente instintiva e que podia tanto dar para o lado certo como para o lado errado. A minha ideia era deixar para último lugar o filme que certamente ia chamar mais a atenção por parte dos jovens, porque as últimas memórias são sempre as decisoras e as que ficam mais facilmente gravadas, se me faço entender. Felizmente, depois de alguns burburinhos, falatórios e algumas faltas de interesse durante quase toda a projecção, chega o momento em que sou eu a pôr as cartas na mesa. Foi precisamente nesse momento que senti a sala a silenciar-se, a demonstrar um súbito interesse pela projecção – não digo qual era o filme para não influenciar opiniões – e isso deixou-me extasiado de alegria porque tinha conseguido atingir o meu objectivo com aquela sessão – captar o interesse de um público muito novo. Muitos dos jovens não sabiam quem eu era e ouvia-os, logo ao primeiro filme, a perguntarem o que seria “aquilo”. No final, os que disseram “aquilo” foram os primeiros a dizerem entre si que “até estava bom”… Creio que se a sequência da exibição tivesse sido outra eu tinha saído de lá sem que houvesse uma pessoa a gostar da sessão. Foi uma opção que acabou em bem, mas nem sempre isto acontece. Depois desta, tive outras exibições, com outros filmes, umas correram bem, outras nem tanto. Tudo depende de um público, ele é o elemento crucial para a avaliação de um filme. Se conseguirmos chegar até esse público com o nosso trabalho temos um objectivo completo, mas essa é uma tarefa que cada vez é mais difícil de concretizar. Acima de tudo, acho que não nos devemos preocupar em fazer um filme ou em dirigi-lo, emotivamente, para um público em particular. No fundo, o que importa é sermos fiéis aos nossos princípios e aos nossos instintos e guiarmo-nos por eles.
É um pouco isto o que tenho vindo a aprender por experiência própria. Não há muitos conselhos que possa dar quanto à materialização da emoção através do Cinema. Muitos filmes já o conseguiram, muitos ainda o conseguirão. Apesar de tudo, não nos podemos esquecer que o tempo é sempre o Juiz final, o decisor soberano de qualquer memória ou sentimento: hoje podemos não causar emoção, mas quem sabe o que acontecerá daqui a alguns anos…
6 comentários:
Wiii... Finalmente chegou ao fim!!! lolol
LOL
Realmente, já não era sem tempo!
Já os supostos leitores estavam cansados de ler o ensaio e eu já estava farto de publicar diariamente as partes...
Ufa!, lololol
Reparaste que o número de comentários ao teu blog reduziu drasticamente?!
LOL tou a brincar ctg...
Abraço
LOLOL mas tens mesmo razão!
é uma tristeza! :(
Abraço!
Finalmente, Helder! E não é finalmente chegaste ao fim, é antes finalmente me decidi a ler tudo... assim servido em doses homeopáticas, embora tenha consumido tudo de uma vez porque hoje, desde há muito tempo, resolvi fazer uma viagem pelos blogs amigos, de onde andava arredada (até dos meus). E hoje fiz o que prometera e não cumprira nunca: li o "ensaio" e achei muito interessante. "Breve" não será (o tamanho foi entrave à leitura, assim em partes é mais convidativo), mas é uma reflexão muito pessoal e que se lê com interesse.
Desculpa ter sido só hoje...
bj
Awwwe! Obrigado MEC!!
Agrada-me que tenha sido do seu agrado! :) Temos de falar!!
Bjssss.
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