quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Cinema e Emoção: um breve ensaio

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Parte 4/7

No Cinema, a emoção manifesta-se maioritariamente através das “acções negativas” o que, segundo o meu ponto de vista, acaba por causar sensações que se afastam um pouco do verdadeiro sentido da emotividade: se o ficar emocionado tiver por base um sentimento de empatia – e penso que todos estamos de acordo quanto a isso – então a verdadeira emoção só é conseguida pelos “actos positivos”. Isto vem invalidar, de certa forma, o que atrás foi dito. Se, por um lado, a emoção vem de dois tipos de acções (“positivas” e “negativas”), por outro lado, tendo em conta o verdadeiro sentido do “ficar-se emocionado”, verificamos que a manifestação da emotividade só é válida para “acções positivas”. Quero com isto dizer, muito simplesmente, que um sentimento de revolta, usualmente, não é tão emotivo como um sentimento de compaixão, atendendo que os sentimentos de revolta se adquirem com “acções negativas” e que a compaixão tem origem em “acções positivas”.
O facto de estarmos constantemente a ser bombardeados com cenas de violência em grande parte do Cinema que se faz actualmente, a emotividade tem vindo a ser substituída por outro tipo de sentimentos mais pesados e mais revoltantes do que a simplicidade da ternura e do carinho – então, é ou não verdade que associamos mais facilmente a emoção a “acções positivas” do que a “acções negativas”? Efectivamente, são poucos os filmes que, hoje em dia, insistem na busca da emoção pelos gestos, pelo silêncio, pelo diálogo…
No fundo, são os filmes que vão de encontro aos nossos sonhos, ao nosso imaginário e que se vingam por esse lado: filmes como Cinema Paraíso (1988), Ladies In Lavander (2004), Billy Elliot (2000), Na América (2002), My Own Private Idaho (1991), Central do Brasil (1998), O Feiticeiro de Oz (1939), Os Sonhadores (2003), Voando Sobre Um Ninho de Cucos (1975) e Uma História Simples (1999) são, de certa forma – como mais adiante se verá –, óptimos exemplos da emoção por “acções positivas”.
A propósito deste último, que David Lynch realizou como resposta à má crítica, lembro-me que houve um Festival de Cinema onde conheci duas pessoas e passávamos horas em longas conversas sobre a vida, sobre o mundo e sobre o Cinema. Numa dessas conversas, precisamente esse filme acabou por vir à baila... Extraordinariamente – e só depois de o terem referido é que eu o percebi – a reacção que os três tivemos à mínima referência do nome do filme – “The Straight Story – Uma História Simples” – foi de se guardar na memória para sempre: enquanto um começou a vibrar de entusiasmo, o outro levou-se para as lágrimas e eu fiquei com os olhos a brilhar (disseram-me). Foi incrível como o mesmo filme conseguiu produzir naquele momento três tipos de emoções em três pessoas diferentes: o entusiasmo, a compaixão e o saudosismo, atrevo-me a dizer. Foi extraordinária a forma como os três relembramos o filme e de como uma história tão simples, de um homem que percorre quilómetros com um corta-relvas para ver o irmão que está à beira da morte, consegue emocionar-nos tão avidamente. Foi um momento excepcional!

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