segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

OSCARS 2011


Aconteceu ontem. Los Angeles, Hollywood e o Kodak Theatre aperaltaram-se para a maior e mais glamorosa noite do ano, mas a vitória é festejada na Europa, com "O Discurso do Rei" a sair vencedor de 4 bons Oscars, de entre os 12 para que estava nomeado: Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Argumento Original e Melhor Actor Principal.

Como sempre, há quem consente e há também quem discorde por completo da escolha da Academia; para mim, não deixou de ser uma surpresa, embora a competição deste ano tivesse sido bastante equilibrada. Só lamento o esquecimento de Shutter Island, de Martin Scorsese, que nem uma mísera nomeação levou para casa...


Filme O Discurso do Rei

Actor Num Papel Principal Colin Firth, por "O Discurso do Rei"

Actriz Num Papel Principal Natalie Portman, por "Cisne Negro"

Realizador Tom Hooper, por "O Discurso do Rei"

Cinematografia A Origem

Actriz Num Papel Secundário
Melissa Leo, por "O Último Round"

Actor Num Papel Secundário
Christian Bale, por "O Último Round"

Argumento Adaptado A Rede Social

Argumento Original
O Discurso do Rei

Filme em Língua Não Inglesa Num Mundo Melhor (Dinamarca)

Curta Metragem de Animação The Lost Thing

Longa Metragem de Animação Toy Story 3

Banda-Sonora Original A Rede Social

Canção Original Randy Newman, por "We Belong Together" (Toy Story 3)

Mistura de Som A Origem

Edição de Som A Origem

Edição de Imagem A Rede Social

Maquilhagem O Lobisomem

Direcção Artística Alice no País das Maravilhas

Documentário de Curta Metragem Strangers No More

Curta Metragem God of Love

Documentário de Longa Metragem Inside Job - A Verdade da Crise

Efeitos Visuais A Origem

Guarda-Roupa Alice no País das Maravilhas

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

EM CARTAZ:


The King's Speech / O Discurso do Rei
de Tom Hooper



Há uma estranha, e contudo curiosa, beleza dramática na História britânica que desde sempre me apelou ao interesse. Talvez seja essa a razão de querer escrever sobre “O Discurso do Rei”, mas, ainda assim, quem resiste a uma dinastia Tudor dominada pelo ciúme e pela traição? Digo, a um Henry VIII pinga-amor, a uma sangrenta Queen Mary I ou a uma eterna Virgem, Elizabeth I? E se for uma apaixonada (e apaixonante) rainha Victoria, que ao lado do seu Albert vingou no Amor e na Arte, ou, para puxarmos a brasa à nossa sardinha, quem resiste a uma lutadora D. Catarina de Bragança que muito fez pelos costumes ingleses que perduram até aos dias de hoje?
São apenas exemplos, é certo, meros nichos cronológicos numa História, por vezes paralela à nossa, que muito ainda tem para oferecer. Uma História e uma Cultura, acima de tudo, porque a Cultura não deixa de ser um subproduto da História. Com efeito, “O Discurso do Rei” tem uma significativa contribuição nesse aspecto. Cinge-se a esta última dinastia, a de Windsor, numa acção que se dissipa entre as décadas de 30 a 40 do séc. XX.

Foi ainda sob o reinado da apaixonada Victoria que nasceu Albert Frederick Arthur George, seu bisneto. Foi o segundo filho de George Frederick Ernest Albert, futuro rei George V do Reino Unido, pelo que muito dificilmente lhe estaria destinado o trono britânico. O seu irmão mais novo teve uma morte prematura e Edward David, o irmão mais velho, sempre foi o filho favorito de George V. Nunca teve, portanto, uma infância particularmente feliz, apesar de todas as mordomias monárquicas; era repreendido pelo pai, faltava-lhe afecto, as aias de nada ajudavam, maltratavam-no, sentia-se intimidado pelo irmão e isso trouxe-lhe graves consequências que o marcaram para a vida: a sua gaguez.
Com a morte de George V, Edward David sobe ao trono como rei Edward VIII, mas por lá não fica durante muito tempo: em menos de um ano, Edward VIII anuncia publicamente a sua paixão por uma americana a caminho do segundo divórcio e que, com ela, pretendia contrair matrimónio. Abdica do trono a favor do amor e, imagine-se, quem lhe sucede na lista é mesmo Albert George, ou rei George VI, o gago, então casado com Lady Elizabeth, posteriormente conhecida como Rainha Mãe. Sejamos sinceros: trata-se de uma história particularmente curiosa; pensamos sempre quais seriam as probabilidades de tal acontecer. E, para nossa sorte, nada disto foi esquecido em “O Discurso do Rei”, muito embora toda esta vertente histórica de que se fala tenha ficado para segundo plano.
Em boa verdade, o filme pretende ser mais do que a recriação dos factos. Senão vejamos: ainda antes do seu marido subir ao trono, Lady Elizabeth terá travado conhecimento com um tal de Lionel Logue, um dúbio terapeuta da fala vindo da Austrália. Convence o marido, Albert George, então Duque de York, a experimentar as “práticas incomuns e pouco ortodoxas”, mas infalíveis no tratamento da gaguez, exclusivas deste suposto terapeuta credenciado, perfeito em dicção, mas péssimo a interpretar Shakespeare. Albert acede, mas cedo se arrepende; o seu temperamento não é propriamente compatível com os métodos de Lionel Logue. Entre remorsos e embaraçosos discursos, Albert decide voltar à terapia como esperança última de conseguir articular correctamente as palavras. É impressionante as dificuldades que demonstra em manter um discurso sem lapsos, pausas abruptas, espasmos musculares e outros descuidos, seja em público ou junto de familiares e amigos. Lionel Logue não desiste, muito convicto nos seus próprios métodos e nas suas capacidades, procura uma relação de amizade e confiança com Albert George, porque só assim se chegaria ao sucesso.


“O Discurso do Rei”, na sua essência, explora a relação entre Lionel Logue e o rei George VI, ou Bertie, como lhe veio a chamar. Focaliza-se numa amizade que quebrou muitos limites, impensáveis numa casa real britânica. Mostra a inteira confiança que um rei deposita num suposto “doutor” que lhe promete milagres; e Bertie, já farto de berlindes e de cigarros compulsivos, aceita as condições impostas e despreza as habituais intrujices religiosas.
Lionel Logue terá acompanhado George VI até ao final dos seus dias, ajudando-o em todos os seus discursos e emissões radiofónicas dirigidas ao Império Britânico. Contudo, este “Discurso do Rei” está limitado num tempo muito concreto, mas não é por acaso que isso acontece. Efectivamente, foi no final da década de 30 que despoletou a Segunda Guerra Mundial. Neste contexto, os discursos da casa real britânica ganharam mais ênfase e uma importância decisiva na História do Reino Unido, especialmente porque foram proferidos por um rei gago. É um facto bastante curioso, mas Lionel Logue estava lá, fez progressos impressionantes, mas muito se deve também à força de vontade de um rei que supera os medos e os fantasmas do passado, perante a obrigação e a responsabilidade monárquica.

“O Discurso do Rei”, embora se prenda neste tema de grande interesse, não chega a ser um filme surpreendente nem impressionante, mas com certeza é merecedor de todas nomeações de que tem sido alvo. Destaca-se, sem qualquer sombra de dúvida, por um Colin Firth gago e tímido, impaciente e corajoso, como George VI, claro; por um Geofrey Rush humilde, honesto e perspicaz, como Lionel Logue; e por uma glamorosa e encantadora Helena Bonham Carter como Lady Elizabeth, não desconsiderando os rigorosos e frios Goerge V e Winston Churchill, este último também desprezível, respectivamente interpretados pelos veteranos Michael Gambon e Timothy Spall.
Tom Hooper faz um trabalho incerto. Por vezes bastante linear e académico, sem nada de novo, e por vezes zonzo, em planos enjoativos que quase nos fazem entrar pela garganta de George VI adentro - não sei se terá sido muito feliz nessa escolha, embora se compreenda perfeitamente a intenção. A mise-en-scène é extraordinária, como de resto se esperaria que fosse, mas, nesta área técnica, Alexandre Desplat ganha aos pontos por uma exímia banda sonora original que, esta sim, nos entra pelos ouvidos e garganta adentro sem nos enjoar.


Relembra-se que “O Discurso do Rei” tem 12 nomeações para os Oscars da Academia; parece-me a mim que, infelizmente, não terá muita sorte e será um dos grandes condenados da cerimónia, não arrecadando mais do que umas escassas duas ou três estatuetas, incluindo a de Melhor Actor Principal que pode ser já dada com certa. Mas convém deixarmos margem para as surpresas, porque os Oscars, de uma maneira ou de outra, acabam sempre por nos surpreender. É a missiva deles, ou pelo menos assim parece ser; ficaremos, portanto, ansiosos pelos resultados.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

SE AZUL SE ATREVE


Puxar-nos o Futuro

Numa altura em que toda a cultura portuguesa, mercê da globalização, se descaracteriza, é no fado que está a preservar-se a nossa mais genuína identidade. Daí a revitalização nele observada através de novas gerações de grandes intérpretes.

Helena Sarmento afirma-se, pelo estilo próprio, voz singular, repertório original, comunicabilidade envolvente, uma referência nesse movimento já irreversível. O seu presente CD coloca-a, a partir de agora, na primeira linha dos fadistas fadados para puxar-nos o futuro.

Fernando Dacosta



Não deixem de ouvir (nem de comprar) este lindíssimo álbum FADO AZUL, de Helena Sarmento, e principalmente não deixem de ver os videoclips para os fados "Fado dos Meus Passos" e "Caldeirada (Poluição)", que brevemente deverão estar disponíveis, e dos quais, muito orgulhosamente, fui assistente de realização.




segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

EM CARTAZ:


You Will Meet A Tall Dark Stranger / Vais Conhecer O Homem Dos Teus Sonhos
de Woody Allen



Há uma estranha simplicidade nos filmes de Woody Allen que me surpreende a cada visualização. Não que os esteja a rever constantemente, mas antes a ver: é notável a extensividade da sua filmografia, particularmente se considerarmos a sua frequente presença (em complemento à realização) como argumentista, actor, produtor, e por aí adiante... Independentemente desta tão curta frequência entre exigentes trabalhos, o certo é que um Woody Allen é sempre diferente do anterior, embora numa estética semelhante, sem nunca ser mau ou surpreendentemente bom, mas sobretudo sem perder de vista uma linha tão lúcida e inteligente na acção explorada.
Mas "Vais Conhecer O Homem Dos Teus Sonhos" é substancialmente diferente do que se tem visto, ou que o autor tenha feito até então. Em boa verdade, parte da sua mais recente filmografia se encontra direccionada para este lado quase introspectivo, ou antes, convergindo para uma moralidade que se baseia nos mais diversos estereótipos. Aconteceu em "Tudo Pode Dar Certo" ("Whatever Works" [2009]), protagonizado por Larry David, e acontece também agora, desta feita com Anthony Hopkins no papel principal e ao lado de Josh Brolin, Naomi Watts e Gemma Jones.
Filmado numa Londres moderna e actual, o filme reflecte sobre esta família, pai, mãe, filha e genro, cada um com as suas vulnerabilidades na vida pessoal e profissional. Fala-nos das dificuldades em aceitar a velhice, e a posterior e louca transformação num jovem de outrora, caindo nos mais variados erros que assomam a (quase) terceira idade; fala-nos da solidão e de como isso nos faz acreditar em videntes charlatãs que prevêem o óbvio ou o que queremos ouvir; fala-nos da inconformidade de um casamento, das dificuldades económicas e do insucesso profissional; fala-nos da inspiração artística, enquanto fio condutor da criação e enquanto razão absoluta para o adultério; mas fala-nos também da esperança e de que, apesar das adversidades, acabamos sempre por conhecer "o homem dos nossos sonhos".
Assim é este novo Woody Allen, desprovido de informação adicional, muito objectivo e conciso, e que cedo nos desperta para a sua intenção, pela criatividade narrativa, reflexiva e humorística; no essencial, como Woddy Allen nos tem, desde sempre, habituado.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

CINEMA: Burlesque



Burlesco, de toda e qualquer maneira!

É o que acontece quando se junta Cher, a Diva das Divas, com Christina Aguilera, uma das mais extraordinárias vozes do nosso tempo. Adiciona-se um amável e sarcástico Stanley Tucci e toda uma panóplia de talentosas bailarinas que burlescamente adoçam os números musicais.
Muito embora este "Burlesque" tenha um dos mais básicos argumentos dos últimos (muitos) anos - o que não é, de todo, surpreendente - o resultado final não deixa de ser positivo. Talvez por me dedicar demasiado às artes de palco, e particularmente ao musical, tenha desconsiderado esse princípio, embora não seja uma atitude propriamente ética perante o contexto cinematográfico. Esclareça-se então esse ponto: "Burlesque" é o exibicionismo e o exuberante; são as plumas e as pérolas a adornar um escasso, mas extravagante, guarda-roupa; é o chapéu preto e a cadeira num palco envolto em fumo, numa única silhueta que o único projector permite. "Burlesque" é isso, porque mais não pretende ser.


A gloriosa Cher é Tess, dona teimosa e orgulhosa do Burlesque Lounge. Já teve dias melhores: por um lado pressionada pelo banco ao pagamento de umas hipotecas, por outro lado pressionada por um visionário investidor multimilionário, que já há muito lhe quer ficar com o bar e transformar a fabulosa Sunset Boulevard, em Los Angeles, para seu próprio proveito.
A talentosa Christina é Ali, de Alice; em boa verdade, uma campónia do Iowa, empregada de mesa num bar de segunda, mas com uma extraordinária vontade de mudar de vida e vingar no mundo do show biz, como cantora e bailarina. Deixa o pouco que tinha para trás e aventura-se em LA, como todos os comuns mortais, até se deparar com o dúbio, mas atraente, Burlesque Lounge.
Claramente que o argumento não terá muito por onde fugir, tendo em conta que o começo também não o é propriamente original - lembremo-nos, por exemplo, do "Coyote Ugly" (2000). Mas não creio que este filme, em particular, queira ser visto por esse lado. Fala-se aqui de um filme que pretende, acima de tudo, celebrar um estilo teatral que prima pelo bruto, pelo grotesto, pela sátira ou pela comédia; este será o estilo burlesco, no seu conceito mais básico, aqui muito bem representado, ou recriado, em elegantes elementos cénicos, ou em pequenas encenações que preenchem as noites do Burlesque Lounge, compondo os espectáculos criados por Tess (e posteriormente encabeçados por Ali), mas também nas coreografias claramente inspiradas em Fosse e no seu Cabaret, e nos figurinos, ricos e deslumbrantes, que adornam cada uma das talentosas mulheres (e por vezes homens) que estão em palco, incorporando Marylin Monroe's em playbacks que poucos gostam de assistir - mas isso também fará parte do conceito e da estética do burlesco.


"Burlesque" teve um propósito e conseguiu-o alcançar, embora da forma mais básica. Mas esperar-se-ia muito mais? Eu creio que não, apesar de ter havido pano para muita, mas muita manga. Em parte, o "Moulin Rouge" (2001) teve um propósito semelhante e, sejamos sinceros, conseguiu-o alcançar de uma forma bastante melhor e completamente original (exceptuando as músicas), embora enquadrado numa época dominada pela Boémia - e o boémio é claramente diferente do burlesco.
Importa apenas acrescentar que por este "Burlesque" aparecem temas musicais extraordinários e muito bem interpretados, quase todos enquadrados em números coreográficos inigualáveis, que no conjunto formam pequenas encenações cuidadosamente pensadas. Diria: muita luz, muito fumo, muita cor, muitos glitters e muito queer!
Christina Aguilera dá-se bem melhor a cantar do que a representar, embora esta sua passagem pelo cinema, prevejo, será repetida num outro qualquer papel semelhante; e a Cher é a Cher, por mais que se possa dizer...
Definitivamente, é preciso uma Lenda para se fazer uma Estrela.