sábado, 23 de janeiro de 2010

Prémios de Teatro Guia dos Teatros 2009

À semelhança do que aconteceu o ano passado, o Guia dos Teatros promove os Prémios de Teatro Nacional, desta feita, referentes ao ano de 2009. As votações já se encontram abertas e esperamos contar com o vosso voto.
Basta apenas que façam download do boletim de voto, preencher e enviar. Se preferirem, podem também aceder aos respectivos blogues para mais informações:

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Cinema e Emoção: um breve ensaio

Parte [1] [2] [3] [4] [5] [6]

Parte 7/7

Em casos mais práticos e que se relacionem directamente com o Cinema na forma de criação, temo que pouco mais haverá a dizer. Não existe uma fórmula nem existe um método para transmitir a emoção através da imagem. É puramente um acto instintivo, cada um faz (ou deverá fazer) da forma que considerar mais correcta. Não é uma tarefa fácil, pelo contrário, é um acto comum a toda a arte: da mesma forma que um pintor imprime a sua emoção numa tela, que um escritor imprime nas palavras ou que um bailarino imprime nos movimentos, o realizador terá que imprimir também o que sente naquilo que filma. Poderá ter o auxílio de elementos adicionais que em muito contribuem para isso – uma banda sonora exemplar ou bons actores que se saibam exprimir –, mas tudo vai acabar por se resumir a isso mesmo: a emoção só chega ao espectador se o realizador a imprimiu previamente no filme.
A primeira exibição que fiz para um público foi na cidade de Braga, a convite da organização de um evento cultural para uma Escola Secundária. Percebi que grande parte do público que ia ter seria muito jovem e imaginei que ia ser difícil fazer-lhes chegar o meu trabalho – ia passar um conjunto de 4 filmes baseados em poemas. Como antevi isso, optei por escolher a ordem com que os 4 filmes iam ser exibidos e assim, em primeiro lugar, escolhi o filme que achava que eles não iam gostar nada; em segundo lugar, ficava o filme que iam gostar um pouco mais e assim sucessivamente, até ao quarto filme, que eu achava que iria ser o mais apreciado. Ora, esta foi uma escolha totalmente instintiva e que podia tanto dar para o lado certo como para o lado errado. A minha ideia era deixar para último lugar o filme que certamente ia chamar mais a atenção por parte dos jovens, porque as últimas memórias são sempre as decisoras e as que ficam mais facilmente gravadas, se me faço entender. Felizmente, depois de alguns burburinhos, falatórios e algumas faltas de interesse durante quase toda a projecção, chega o momento em que sou eu a pôr as cartas na mesa. Foi precisamente nesse momento que senti a sala a silenciar-se, a demonstrar um súbito interesse pela projecção – não digo qual era o filme para não influenciar opiniões – e isso deixou-me extasiado de alegria porque tinha conseguido atingir o meu objectivo com aquela sessão – captar o interesse de um público muito novo. Muitos dos jovens não sabiam quem eu era e ouvia-os, logo ao primeiro filme, a perguntarem o que seria “aquilo”. No final, os que disseram “aquilo” foram os primeiros a dizerem entre si que “até estava bom”… Creio que se a sequência da exibição tivesse sido outra eu tinha saído de lá sem que houvesse uma pessoa a gostar da sessão. Foi uma opção que acabou em bem, mas nem sempre isto acontece. Depois desta, tive outras exibições, com outros filmes, umas correram bem, outras nem tanto. Tudo depende de um público, ele é o elemento crucial para a avaliação de um filme. Se conseguirmos chegar até esse público com o nosso trabalho temos um objectivo completo, mas essa é uma tarefa que cada vez é mais difícil de concretizar. Acima de tudo, acho que não nos devemos preocupar em fazer um filme ou em dirigi-lo, emotivamente, para um público em particular. No fundo, o que importa é sermos fiéis aos nossos princípios e aos nossos instintos e guiarmo-nos por eles.
É um pouco isto o que tenho vindo a aprender por experiência própria. Não há muitos conselhos que possa dar quanto à materialização da emoção através do Cinema. Muitos filmes já o conseguiram, muitos ainda o conseguirão. Apesar de tudo, não nos podemos esquecer que o tempo é sempre o Juiz final, o decisor soberano de qualquer memória ou sentimento: hoje podemos não causar emoção, mas quem sabe o que acontecerá daqui a alguns anos…

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Cinema e Emoção: um breve ensaio

Parte [1] [2] [3] [4] [5]

Parte 6/7

Mas, entrando novamente na linha de pensamento, é em filmes como Lágrimas e Suspiros (1972), Morangos Silvestres (1957), Personna – A Máscara (1966), O Silêncio (1963), assim como nos restantes filmes (praticamente todos) de Ingmar Bergman – que eu considero um dos maiores realizadores de sempre – que encontramos o exemplo perfeito do que é sentirmo-nos emocionados ora pelo silêncio, ora pelo gesto, ora pelo factor surpresa, ora pela melancolia… É uma exigente e inevitável mistura de sentimentos e de sensações inexplicáveis que nos chegam até ao coração, ali ficam, permanecem, e nós contidos na nossa mudez, sem saber o que dizer, estupefactos com tanto sentir. Isto sim! É o verdadeiro afluir de emoções.
Contudo, o que mais correntemente se encontra no Cinema é uma mistura de emoções por “acções positivas”, tendo por base uma (ou várias) “acções negativas”. Não é estritamente assim que acontece, claro, mas veja-se como exemplo os filmes O Voo da Abelha (1999), La Lengua de las Mariposas (1999), Casablanca (1942), Um Violino no Telhado (1971), Elephant (2003), 4 Meses, 3 Semanas, 2 Dias (2007), O Piano (1993), Mystic River (2003), O Pianista (2002), A Última Chamada (1995), E Tudo o Vento Levou (1939), A Lista de Schindler (1993), Crash (2004) – quem não se lembra da fantástica cena com a miúda e o “manto da protecção” que bem exemplifica o que procuro idealizar? A fragilidade de um ser associada a uma potencial morte são suficientes para a emotividade – e ainda tantos outros filmes, como devem imaginar, que poderiam ser aplicados aqui.
Para que não esqueça, também o autor Wim Wenders seria bem lembrado nesta fase pela sua cinematografia deambulatória em filmes como Lisbon Story (1994) – que eu idolatro – e Tokyo-Ga (1985). É nesse sentido vago, da deambulação, do documentarismo, que Wenders aborda muitas questões sobre as pessoas, sobre a sociedade e sobre o mundo que nos comove e emociona, não se baseando, necessariamente, em “acções negativas” ou “positivas”.
Também os filmes da Nouvelle Vague – o melhor Cinema Francês que podemos encontrar – Godard, Truffaut e, mais recentemente, Christophe Honoré, são bons exemplos dessa deambulação, de filmes de rua que através da simplicidade e ligação tão intrínseca com a realidade atingem a emoção.
Da mesma forma, em Portugal vemos essa condição – emotividade equilibrada pelo “positivismo” e “negativismo” das acções – em filmes como Manhã Submersa (1980) de Lauro António – na linha da frente da cinematografia portuguesa – Jaime (1999) de António Pedro Vasconcelos, Kiss Me (2004) de António da Cunha Telles – um filme bastante interessante, por acaso – Alice (2005) de Marco Martins e, porque não?, os documentários Ainda há Pastores? (2006) e Pare. Escute. Olhe! (2009), ambos de Jorge Pelicano. Meros exemplos, repare-se, que o leitor pode complementar com a sua situação.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Cinema e Emoção: um breve ensaio

Parte [1] [2] [3] [4]

Parte 5/7

Mas, voltando atrás, grande parte dos filmes Asiáticos (essencialmente Chineses, Japoneses e Coreanos) são feitos tendo por base o que aqui acabou de ser descrito: a emoção por “acções positivas”. Tome-se como excelentes exemplos os filmes Adeus, Dragon Inn (2003) e Ferro 3 (2004) que, através de gestos, sem diálogos, um silêncio absoluto – a verdadeira narrativa visual –, compreendemos a essência da paixão, o viver de um presente e a construção de um futuro.
Analogamente, também em Portugal existem filmes que se baseiam nesse princípio: Aniki Bóbó (1942) de Manoel de Oliveira – por mim considerado como melhor filme Português – e Terra Sonâmbula (2007) de Teresa Prata são os melhores exemplos disso. Enfim, muitos filmes existem e podiam ainda ser mencionados, mas referem-se apenas estes a título de exemplo, considerando que o leitor deverá, da mesma forma, ser capaz de associar o que aqui é exemplificado com os filmes que visiona.
Paralelamente, a emoção pode também ser conseguida segundo outros meios, tal como já mencionado; usualmente, um acontecimento inesperado que cause espanto ou surpresa é passível de causar igualmente um impacto emocional. Este é precisamente um meio que tem ganho particular estima por parte de diversos realizadores. O facto de invadirmos o espectador com uma situação imprevista e de que não estava à espera, toma-o em surpresa podendo-o levar a um sentimento mais emotivo. Exemplos disso são os filmes de suspense – e aqui entra Hitchcock com toda a certeza – que criam uma tensão propositada e incitam o espectador a ter um determinado tipo de reacção assim que algo de inesperado aconteça. Mas estes são exemplos pouco felizes para a compreensão deste tema já que, tal como foi dito, o espectador é manipulado propositadamente para ter aquele tipo de reacção e de emoção – e Hitchcock sabia-o demasiadamente bem! Não quero dizer, no entanto, que as “acções positivas” que culminam num estado emotivo não são materializadas através da manipulação do espectador; claro que isso está sempre presente em qualquer obra, mas há filmes em que essa manipulação é de tal forma evidente que se desprendem totalmente do sentimento positivo de que é o gesto, o carinho e o silêncio que atrás mencionava. Veja-se o caso dos filmes “exploitation”, de série B, que tiram partido da fragilidade humana (manipulam-nos, portanto, vão de encontro ao que mais tememos e contra os nossos princípios) e nos levam a reagir e a emocionarmo-nos de certa forma perante uma situação extrema – igual para o caso dos filmes “Gore” que recentemente têm adquirido grande interesse por parte do público.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Cinema e Emoção: um breve ensaio

Parte [1] [2] [3]

Parte 4/7

No Cinema, a emoção manifesta-se maioritariamente através das “acções negativas” o que, segundo o meu ponto de vista, acaba por causar sensações que se afastam um pouco do verdadeiro sentido da emotividade: se o ficar emocionado tiver por base um sentimento de empatia – e penso que todos estamos de acordo quanto a isso – então a verdadeira emoção só é conseguida pelos “actos positivos”. Isto vem invalidar, de certa forma, o que atrás foi dito. Se, por um lado, a emoção vem de dois tipos de acções (“positivas” e “negativas”), por outro lado, tendo em conta o verdadeiro sentido do “ficar-se emocionado”, verificamos que a manifestação da emotividade só é válida para “acções positivas”. Quero com isto dizer, muito simplesmente, que um sentimento de revolta, usualmente, não é tão emotivo como um sentimento de compaixão, atendendo que os sentimentos de revolta se adquirem com “acções negativas” e que a compaixão tem origem em “acções positivas”.
O facto de estarmos constantemente a ser bombardeados com cenas de violência em grande parte do Cinema que se faz actualmente, a emotividade tem vindo a ser substituída por outro tipo de sentimentos mais pesados e mais revoltantes do que a simplicidade da ternura e do carinho – então, é ou não verdade que associamos mais facilmente a emoção a “acções positivas” do que a “acções negativas”? Efectivamente, são poucos os filmes que, hoje em dia, insistem na busca da emoção pelos gestos, pelo silêncio, pelo diálogo…
No fundo, são os filmes que vão de encontro aos nossos sonhos, ao nosso imaginário e que se vingam por esse lado: filmes como Cinema Paraíso (1988), Ladies In Lavander (2004), Billy Elliot (2000), Na América (2002), My Own Private Idaho (1991), Central do Brasil (1998), O Feiticeiro de Oz (1939), Os Sonhadores (2003), Voando Sobre Um Ninho de Cucos (1975) e Uma História Simples (1999) são, de certa forma – como mais adiante se verá –, óptimos exemplos da emoção por “acções positivas”.
A propósito deste último, que David Lynch realizou como resposta à má crítica, lembro-me que houve um Festival de Cinema onde conheci duas pessoas e passávamos horas em longas conversas sobre a vida, sobre o mundo e sobre o Cinema. Numa dessas conversas, precisamente esse filme acabou por vir à baila... Extraordinariamente – e só depois de o terem referido é que eu o percebi – a reacção que os três tivemos à mínima referência do nome do filme – “The Straight Story – Uma História Simples” – foi de se guardar na memória para sempre: enquanto um começou a vibrar de entusiasmo, o outro levou-se para as lágrimas e eu fiquei com os olhos a brilhar (disseram-me). Foi incrível como o mesmo filme conseguiu produzir naquele momento três tipos de emoções em três pessoas diferentes: o entusiasmo, a compaixão e o saudosismo, atrevo-me a dizer. Foi extraordinária a forma como os três relembramos o filme e de como uma história tão simples, de um homem que percorre quilómetros com um corta-relvas para ver o irmão que está à beira da morte, consegue emocionar-nos tão avidamente. Foi um momento excepcional!

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Cinema e Emoção: um breve ensaio

Parte [1] [2]

Parte 3/7

Se nos aprouver desenvolver um pouco mais o conceito da emotividade, eu diria que ainda é possível subdividir o tema em diversos níveis equitativos, tanto para a emoção por "acções negativas" como por "acções positivas". O estado emotivo tem várias fases. Pelo lado positivo, pode começar por um sentimento de empatia, crescer para a admiração, evoluir para a felicidade e culminar no lacrimejar. Analogamente, para o lado negativo, a emoção também pode começar a manifestar-se na empatia, a crescer para a surpresa ou para o anseio, que evoluí para o medo ou infelicidade, culminando num sentimento depressivo (com ou sem lágrimas).
Não obstante, estas duas situações são muito semelhantes e difíceis de explorar até porque qualquer emoção por "acções negativas" tem sempre por base um lado positivo: de forma a conseguirmos alcançar algum estado emotivo a partir de uma "acção negativa" é necessário nutrir algum sentimento positivo para com uma personagem, i.e., a morte/violação/rapto de uma personagem só nos vai emocionar se, previamente, o realizador nos incitou a gostar daquela personagem, caso contrário a "acção negativa" passa desprovida de qualquer emotividade.
Sendo assim, por serem situações que facilmente se confundem, o mais certo é limitarmo-nos a subdividir a emotividade em sentimentos que se manifestam muito subtilmente e que culminam em sensações profundas que fazem vir as lágrimas aos olhos, independentemente de estarmos a tratar de "acções positivas" ou de "acções negativas".

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Cinema e Emoção: um breve ensaio

Parte [1]

Parte 2/7

É inevitável começar por distinguir, estabelecendo um ponto de partida, as duas faces que a emoção pode envolver num contexto cinematográfico, claro está. O acto de ficar emocionado pode não ser apenas a causa de uma "acção negativa". Uma "acção positiva" também adquire lugar no contexto emotivo e, como se compreenderá, tem uma posição altamente influenciadora nesse tema; se repararmos, é um facto que a emoção advém, na maior parte das vezes, de aspectos negativos, de acções que consideramos repugnáveis - "acções negativas" – e, em consequência de um acto, emocionamo-nos com maior ou menor facilidade consoante o poder (neste caso imagético) dessas acções. Para melhor compreender este facto, e porque já o devia ter feito antes, o que quis dizer com "acções negativas" e "acções positivas" não foi mais do que actos humanos, errados ou correctos; em termos práticos, associamos um "acto negativo" a um assassinato, a uma violação ou a um rapto. É certo que, quando assistimos a uma morte inesperada num filme ou numa série de TV, ficamos susceptíveis à emoção, especialmente se a essa morte for a de uma personagem por quem nutríamos especial afecto - já por isso é que muitos episódios de séries terminam com mortes inesperadas. Da mesma forma, ao assistir à morte de uma criança, ficcionalmente falando, o coração humano não aguentará toda pressão que esta consequência traz e creio piamente que o ser humano fica ainda mais susceptível à emoção nesta situação do que à morte de um qualquer protagonista: sendo uma criança um símbolo de inocência e de fragilidade, um ser que requer protecção constante, como não será possível, por mais frio que seja um coração, de não se emocionar com tal acção?; até porque crianças já todos fomos, já todos experimentamos e facilmente nos revemos naquela situação de impotência. Estes são os actos ou as "acções negativas". No fundo, é o conjunto de comportamentos negativos de uma pessoa que, de livre vontade, exerce uma acção que vai contra os princípios morais comuns, i.e., todos sabemos que é errado matar, violar ou raptar...
Em contrapartida, as "acções positivas" também são passíveis de gerar emoções, independentemente do que, à partida, possam pensar. Estas são acções que geram alegria, procuram causar impacto através de situações felizes: a cena de um primeiro beijo ou de um beijo romântico tão aguardado são "acções positivas" capazes de causar tanto impacto (entenda-se emoção) como uma "acção negativa"; tudo depende da forma como cada um de nós vê cada uma destas situações. Comparativamente, se a morte de uma criança pode ser considerada uma "acção negativa", então o nascimento de uma criança pode muito bem ser uma "acção positiva", especialmente se esse nascimento for uma acção tão religiosamente aguardada por duas personagens que se amam incondicionalmente.
Há que entender e esclarecer esta dualidade básica da emoção: não basta ir contra os nossos princípios para nos causar impacto; às vezes, o sentimento mais puro, um afecto, um carinho e um pequeno gesto são actos tão poderosos que nos levam ao exponencial da emotividade. Como se compreenderá, é óbvio que no Cinema não é só o espectador quem trabalha para atingir o estado emotivo; grande parte dessa responsabilidade, senão mesmo toda, cabe ao realizador que está por detrás de cada acção exposta. Com efeito, uma "acção negativa" pode não causar o impacto desejado no espectador, assim como uma "acção positiva" pode não passar de um frete a que não associamos qualquer tipo de sentimento emotivo. São situações que estão excessivamente relacionadas entre si e só em alguns casos acabam por funcionar correctamente.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Cinema e Emoção: um breve ensaio

Parte 1/7

A emotividade que subsistia nessa conversa leve e improvisada provinha também de uma convenção: provinha destas lágrimas que banhavam, que alagavam as vulgares palavras de todos os dias.

Boris Pasternak
in "O Doutor Jivago"

Sensibilidade.
É, muito provavelmente, a palavra-chave inerente a qualquer divagação que aborde, ainda que ao de leve, a emotividade. Está dependente de cada pessoa, não pode ser alterada nem imposta, ou se tem ou não se tem - por mais cruel que possa ser, não há outra maneira de o dizer –, é uma característica tão associada a um ser, de tal forma inexplicável que chega a ter vários meios (ou métodos) de manifestação, uns mais expressivos que outros, evidentemente.
Talvez não serei a pessoa mais indicada para falar sobre o assunto nem sei se terei a capacidade de abordar decentemente o tema que aqui proponho, conseguindo atingir algum resultado, uma conclusão, que a muitos pode também dizer respeito, mas vou procurar munir-me das minhas experiências, das vivências, do (pouco, talvez,) que conheço do Cinema e da sua história e tentar explorar esta relação tão afectiva entre o Cinema, na sua forma de criação, e a Emoção, na forma do sentir. Muito ficará por dizer, com toda a certeza, muito poderá ainda voltar a ser discutido, por isso não entendam este exercício como uma verdade legítima; entendam antes como uma opinião pessoal, uma justificação, quiçá, da minha parte, uma forma que encontrei para poder reunir algumas ideias, assentar alguns conhecimentos e, acima de tudo, explorá-los e relacioná-los tanto quanto conseguir.
Como compreenderão, abordar um tema tão vasto como este terá as suas dificuldades óbvias. A aplicação prática do que aqui pode ser dito, além de difícil, acabará por se tornar muito vaga; todos os filmes, de uma maneira ou de outra, servirão como exemplo para as questões que aqui vou abordando porque todo o Cinema se enquadra na questão da emoção: um filme que não seja emotivo dificilmente pode ser considerado como filme (no sentido de obra cinematográfica), porque o Cinema é uma materialização da emoção. Desta forma, compreenderão que as escolhas cinematográficas com que vou ilustrando e exemplificando as minhas ideias podem não ser as mais felizes, mas serão certamente as que eu considero mais eficazes para me fazer compreender, i.e., não entendam as escolhas como o desfilar dos filmes mais emotivos ou menos emotivos com que fomos confrontados ao longo da história do Cinema, entendam antes como um conjunto de filmes que contêm uma cena ou que se baseiam num facto que considero fundamental para a compreensão das minhas opiniões.

sábado, 9 de janeiro de 2010

O orgulho

Finalmente, Portugal deu um grande passo - a ver se agora sua Exª, o Sr. Presidente da República, não deita tudo por água abaixo -, um passo maior do que qualquer TGV ou Aeroporto, um passo em prol da igualdade.
Estavamos no Porto, o ano passado, em plena parada gay na Avenida dos Aliados, quando vejo um mãe exibindo uma t-shirt onde se lia "tu não sabes, mas o meu filho é homossexual". Isto, sim, é amor. Passavam poucas horas depois da aprovação na Assembleia da República e já eu estava a receber um convite para um casamento homossexual. Isto, sim, é entusiasmo!
Embora a satisfação não seja total, já se antevia a propósito do problema da adopção, o caminho tomado faz algum sentido. Fala-se em hipocrisia, com toda a verdade, porque é disso que não passa - se um homossexual solteiro pode muito bem recorrer à adopção em nome individual, então de que serve um casamento aprovado se a constituição da família estiver restringida? Digam o que disserem, é incompreensível. Lutemos, então, por essa causa que não faz, sequer, sentido pôr e causa! E lutemos contra essa discriminação depravada e insensível que os vitima descontroladamente. Para mim, não há quaisquer diferenças entre hetero e homossexualidade; o que há são apenas duas pessoas que se amam e têm uma vontade em comum. Quem tem amigos homossexuais deve compreender bem aquilo a que me refiro, mas acho que há muita gente com medo de ser obrigada a casar com um homossexual por causa da aprovação da lei. Valha-nos mais esta se cada um não for livre de optar e de casar com quem quiser e bem entender. Valho-nos, pois!