domingo, 26 de fevereiro de 2012

FILME

A INVENÇÃO DE HUGO
Hugo



Da lista de nomeados ao Óscar de Melhor Filme deste ano, diria que Hugo é o mais surpreendente de todos. Falamos, obviamente, de um Scorsese, mas sobretudo falamos de um novo Scorsese, apanhado num género filmográfico que pouco se relaciona com o que até agora tem feito — ou será que é assim?
Em boa verdade, poderá dizer-se que Scorsese tem duas correntes de trabalho distintas, em que a menos conhecida/divulgada, essencialmente de carácter documentarista, visa homenagear grandes nomes da cultura mundial: George Harrison foi o mais recente, juntando-se a Fran Lebowitz, Rolling Stones, Giorgio Armani, entre tantos outros. São filmes de grande valor documental, dirigido a pequenas massas, entre nós muito pouco falados e quase sem visibilidade.
Hugo, ou em português A Invenção de Hugo, surge como uma quase mistura das suas duas correntes de trabalho, desta feita homenageando um dos grandes pioneiros do cinema e, consequentemente, o Cinema propriamente dito, enquanto forma artística impulsionadora do sonho e da fantasia. O filme, aliás, tem precisamente esse propósito, o de devolver e proporcionar ao espectador um espectáculo de magia, como o parecia ser nos finais do séc. XIX, mas agora com recurso a novas e melhoradas técnicas (onde o 3D ganha especial destaque). Nesse sentido, quem melhor do que homenagear George Méliès? Trata-se, pois, de um dos primeiros grandes realizadores, pioneiro no que se poderá designar de efeitos especiais. Méliès, nascido e criado em França, começou a carreira artística como ilusionista, tendo inclusivamente alcançado alguma fama nessa área. Viu no cinema uma inesgotável possibilidade de novos truques; embora se diga que tenha sido por acaso, a sua capacidade inventiva permitiu a descoberta de, por exemplo, exposições duplas, fadings (in, out e cross) e stop-motion. Um feito notável que o qualificou como um dos criadores mais vanguardistas do cinema, crítico para futuras grandes obras trazidas à luz por, por exemplo, o megalómano David Griffith (a quem disse que devia "tudo"). Méliès realizou mais de 500 filmes em menos de 20 anos, evidentemente histórias de curta duração dado o propósito a que se destinavam; eram, no fundo, novos truques de ilusionismo proporcionados pela nova invenção dos irmãos Lumière. Restam-nos, hoje, uns escassos 80 filmes da sua obra, dos quais devo ter visto apenas uns 20.
Este é o grande propósito de Hugo, mesclado numa história quase infantil, baseada no livro homónimo de Brian Selznick. Com efeito, e não querendo desvendar o muito que o filme oferece ao espectador, estamos perante um trabalho que demonstra um incontornável domínio sobre tudo o que se está a fazer: a começar por um argumento brilhantemente estruturado e a terminar numa realização inteligente que, acima de tudo, consegue cruzar Forma e Conteúdo como há muito não havia sido feito.


sábado, 25 de fevereiro de 2012

ONTEM FOI ASSIM...

FANTASPORTO 2012
Sessão de abertura

SHAME, de Steve McQueen
+
INGRID PITT: BEYOND THE FOREST, de Kevin Sean Michaels






terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

DISCO

PORTA DO CORAÇÃO
Ricardo Ribeiro

Porta do Coração, Ricardo Ribeiro (FOTO: H.M.)

Já há muito que conhecia o Fado de Ricardo Ribeiro, mas só há pouco tempo tive oportunidade de ouvir convenientemente o seu último álbum, Porta do Coração, lançado em 2010.
Na verdade, são poucas as vezes e raras as vozes masculinas que me convencem; e não gosto nada de mastigar as coisas até me parecerem (suficientemente) boas. Nesse sentido, sou de opiniões mais imediatas: assim aconteceu com Ricardo Ribeiro, uma espécie de amor à primeira audição. O álbum comove-me muito, feito de bonitas palavras, de bonitos poemas, de bonitos fados.
Infelizmente não há videoclipe, mas partilho o single que deu o nome ao disco.




Tracklist:
1. Água Louca Da Ribeira  2. Barro Divino  3. Moreninha da Travessa  4. Um Fado Só Para Ti (Poema Tristonho)  5. Glosa Da Saudade  6. Desdobro A Madrugada  7. Sonho Fadista  8. E Nunca Mais De Mim  9. Porquê A Verdade À Noite?  10. Tantos Caminhos  11. Fama de Alfama (Bairro Afamado)  12. Aqui Na Verde Varanda  13. Somos Do Mar E Do Vinho  14. Porta Do Coração  15. A Minha Oração  16. Barro Divino (Hidden Track)


domingo, 19 de fevereiro de 2012

FILME

A DAMA DE FERRO
The Iron Lady



Inexplicavelmente, costumo ter uma estranha afinidade por pessoas que tenham nascido no mesmo dia que eu; não é, de todo, um critério de selecção sensato, mas assim acontece e Margaret Thatcher é uma dessas pessoas. Não tenho memórias do seu "reinado", tinha eu apenas 4 anos de idade quando perdeu as eleições de liderança do Partido Conservador contra Anthony Meyer, após governar o Reino Unido durante 11 anos consecutivos, mas compreendo perfeitamente a marca (boa ou má, é discutível) que Thatcher deixou nos ingleses e no Mundo. Sempre lhe admirei a determinação, a valentia, a garra, a austeridade e a frieza que a sua figura transparece. Se fosse hoje, acho que a odiava, a ela e ao seu conservadorismo, como os ingleses de então, que se viram desiludidos e traídos pela sua "mãe". Não esqueçamos, apesar de tudo, que um estudo recente do Reino Unido aponta Margaret Thatcher como a Primeira Ministra favorita dos ingleses. Parece-me que nos aconteceu o mesmo há poucos anos atrás, quando "votamos" Salazar como o Grande Português. Mas há diferenças: Thatcher não era ditadora, apenas defendia que a receita tinha de vir da classe trabalhadora, com impostos iguais para os ricos e para os pobres — onde é que eu já ouvi isto? Desperate situations call for desperate measures. Thatcher queria fazer a diferença, dizia que as pessoas querem ser alguém, mas o que interessa mesmo é fazer-se alguma coisa para mudar o Mundo. É uma grande verdade, mas acredito que, com isso, Thatcher não se referia às centenas e centenas de famílias que passaram fome a propósito da greve dos mineiros, acredito que não se referia ao amontoado de lixo que crescia de dia para dia nas ruas de Londres, nem às centenas de soldados britânicos mortos quando declarou guerra à Argentina pelas Ilhas Malvinas (Falkland Islands). Acredito que, de certa forma, teve azar; foi uma época muito difícil para o Reino Unido; Thatcher fez o que podia.

O filme de Phyllida Lloyd, que anteriormente havia trabalhado com Meryl Streep em Mamma Mia!, embora tenha algum potencial, é uma grande xaropada que parece andar metido numa alhada que não faz justiça nenhuma à vida de Margaret Thatcher. Vemos uma figura debilitada e alucinada, consumida pelas memórias do passado, incerta de quem é e do que é. Tudo o resto vai surgindo aos poucos, como fragmentos da sua loucura, envolta por fantasmas que a avivam dos seus feitos históricos: o marido, os filhos, os netos ou os colegas ministros. É tudo secundário perante os acessos de loucura e alucinação. Actualmente, Thatcher sofre de Alzheimer, é um facto, mas aos 87 anos merecia um filme biográfico mais lúcido (ou apenas, e justamente, um filme biográfico). Em contrapartida, Meryl Streep é tudo aquilo que se pode esperar, perfeita num papel que lhe parece ter sido moldado para vencer o galardão.


sábado, 18 de fevereiro de 2012

DISCO

ADELE
CD+DVD


Adele Live At The Royal Albert Hall (foto: H.M.)

22 de Setembro de 2011, Royal Albert Hall.
Uma das mais belas salas de espectáculos londrina recebe uma das mais talentosas cantautoras dos últimos muitos anos, Adele. Este DVD (brindado com o respectivo CD gravado ao vivo) não é novidade nenhuma, mas merece destaque em qualquer altura: os recentes 6 Grammys são prova disso. Ainda assim, prefiro-a menos popularizada e mais intimista. Este espectáculo assenta-lhe que nem uma luva; fico com pena de não ter lá estado.

Tracklist:
1. Hometown Glory  2. I'll Be Waiting  3. Don't You Remember  4. Turning Tables  5. Set Fire To The Rain  6. If It Hadn't Been For Love  7. My Same  8. Take It All  9. Rumor Has It  10. Right As Rain  11. One And Only  12. Lovesong  13. Chasing Pavements  14. I Can't Make You Love Me  15. Make You Feel My Love  16. Someone Like You  17. Rolling In The Deep


sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

LIVRO

"O Porto na História do Cinema"

O Porto na História do Cinema de Sérgio C. Andrade

Descobri-o há pouco tempo, por recomendação de uma amiga, mas já foi lançado em 2002, a propósito do Porto 2001, Capital Europeia da Cultura.
Muito bem organizado e estudado, com excelentes artigos e entrevistas, e com especial destaque a Manoel de Oliveira. Um tesouro de leitura obrigatória, principalmente para os portuenses e/ou interessados na matéria.




quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Os diamantes são eternos...




Nova cara. Novos conteúdos.
Já terá certamente reparado, o prezado leitor, que a actividade deste blogue tem andado deveras reduzida, não obstante as diversas (e quase diárias) novidades cinematográficas, teatrais e televisivas. Embora esse seja o principal motivo deste blogue, o de noticiar e divulgar o que demais se tem feito na indústria do audiovisual, o certo é que também estes últimos meses me têm sido de tal forma intensivos, e nem sempre pelas melhores razões, que pouco tempo (e vontade, a bem dizer) me sobra para todas as divulgações que tanto merecem a atenção dispensada, seja da minha parte ou da parte do leitor. Havemos nós, por essa razão, que depender de toda a facilidade proporcionada pelas redes sociais, em particular pelo facebook, que parecem ter já há muito dizimado a blogger star: migraram os leitores e comentadores assíduos, que agora se limitam a duas ou três linhas de um twitter ou seu semelhante...


Em boa verdade, desde a morte de Dino de Laurentiis (Novembro de 2010!), um dos maiores produtores de Hollywood, que a consciência me tem pesado por me ter cingido a uma quase desonrosa honra à sua vida. Fui capaz, imagine-se, de não ter aqui deixado um contributo, quiçá um agradecimento, a uma personalidade cujas palavras me moldaram, me fizeram acreditar no possível e, muito certamente, no impossível. Mas foi por ele que quis regressar. E já por isso escrevo (agora) este texto, para me redimir, esperançosamente, e por ter deixado passar a triste notícia quase em vão, não permitisse o facebook uma fugaz partilha das mais "recentes" novidades. Mas o mesmo aconteceu com os habituais comentários aos filmes, estejam eles em cartaz ou já disponíveis em DVD. Claro que continuo e mantenho uma relação bastante íntima com o meu Cinema: isso, espero eu, manterei sempre e farei de tudo para que assim seja. Mas compreenderá o leitor que um comentário, no meu ponto de vista, deve ser abastadamente justificativo, pensado, de tal maneira trabalhado que requer, só por si, um largo período de reflexão e pesquisa — e mesmo assim pode não corresponder às minhas expectativas iniciais, pelo que também me desculpo se tal não se veio a verificar. É evidente que há exigências e exigências, há comentários e comentários, mas independentemente da índole de cada um deles, confesso-me culpado por não me ter dedicado à sua redacção, nem de uns, nem de outros. Poderia justificar-me, porque razões tenho para isso, mas que de nada importariam ao leitor. Fariam todo o sentido, mas opto por avançar no tema, não vá o leitor ter um acesso semi-epifânico e culpar-me de um pretensiosismo desmedido...

Porventura estará o leitor a intrigar-se do propósito de um post como este. Pelo menos era o que eu faria e, no entanto, não me asseguro de ter uma resposta concreta para a intriga — ou talvez a tenha, mas não esteja nos meus objectivos partilhá-la agora mesmo. Mas trata-se, sobretudo, de uma nova fase; de assinalá-la de alguma forma. E, nesse sentido, propus-me a trazer novos conteúdos em novos formatos, digo, mais fugazes e de directa visualização/percepção — o uso do acordo ortográfico, por seu turno,  está ainda em avaliação. E porquê? — pergunta o leitor — Porque, com toda a minha sinceridade, e após longa reflexão, me custava encerrar este blogue, talvez por com ele ter estabelecido um estranho afecto, embora a ponderação relativamente ao seu término definitivo me tenha assomado por muitas e diversas vezes; mas também me custava tê-lo quase (senão mesmo) ao abandono, numa espécie de internet junk, estilhaçado e disperso no Espaço virtual. Só assim, reformulando-o, seria possível dar-lhe a sua continuidade. Foi a acção que me pareceu mais certa e é, pois, a que irei tomar, na esperança que assim continue por muito mais tempo. (Não farei promessas, porque o seu cumprimento, aprendi há pouco, pode não estar nas nossas mãos; há que confiar, portanto.)
Conte, o leitor, com uma nova partilha, em registos simples, no que disser respeito ao cinema (em exibição ou curiosas edições em DVD/Blu-ray), teatro, literatura, música, fotografia (eventualmente com um paralelismo estabelecido com a minha conta no Instagram, para os leitores que não me seguem nessa plataforma), e o que tanto mais se aprouver e vier a caso. Mas entenda ainda o leitor que, acima de tudo, o faço por mim.

Feitas as contas, aqui reside a essência de um post que anuncia a eternidade dos diamantes. Porque, no fundo, e sem qualquer presunção nas minhas palavras, há mais diamantes do que aqueles que pensamos, e grande parte deles têm ainda mais valor e preciosidade do que a pedra em si. O leitor há-de concordar, mas fica à sua consideração.