A DAMA DE FERRO
The Iron Lady
Inexplicavelmente, costumo ter uma estranha afinidade por pessoas que tenham nascido no mesmo dia que eu; não é, de todo, um critério de selecção sensato, mas assim acontece e Margaret Thatcher é uma dessas pessoas. Não tenho memórias do seu "reinado", tinha eu apenas 4 anos de idade quando perdeu as eleições de liderança do Partido Conservador contra Anthony Meyer, após governar o Reino Unido durante 11 anos consecutivos, mas compreendo perfeitamente a marca (boa ou má, é discutível) que Thatcher deixou nos ingleses e no Mundo. Sempre lhe admirei a determinação, a valentia, a garra, a austeridade e a frieza que a sua figura transparece. Se fosse hoje, acho que a odiava, a ela e ao seu conservadorismo, como os ingleses de então, que se viram desiludidos e traídos pela sua "mãe". Não esqueçamos, apesar de tudo, que um estudo recente do Reino Unido aponta Margaret Thatcher como a Primeira Ministra favorita dos ingleses. Parece-me que nos aconteceu o mesmo há poucos anos atrás, quando "votamos" Salazar como o Grande Português. Mas há diferenças: Thatcher não era ditadora, apenas defendia que a receita tinha de vir da classe trabalhadora, com impostos iguais para os ricos e para os pobres — onde é que eu já ouvi isto? Desperate situations call for desperate measures. Thatcher queria fazer a diferença, dizia que as pessoas querem ser alguém, mas o que interessa mesmo é fazer-se alguma coisa para mudar o Mundo. É uma grande verdade, mas acredito que, com isso, Thatcher não se referia às centenas e centenas de famílias que passaram fome a propósito da greve dos mineiros, acredito que não se referia ao amontoado de lixo que crescia de dia para dia nas ruas de Londres, nem às centenas de soldados britânicos mortos quando declarou guerra à Argentina pelas Ilhas Malvinas (Falkland Islands). Acredito que, de certa forma, teve azar; foi uma época muito difícil para o Reino Unido; Thatcher fez o que podia.
O filme de Phyllida Lloyd, que anteriormente havia trabalhado com Meryl Streep em Mamma Mia!, embora tenha algum potencial, é uma grande xaropada que parece andar metido numa alhada que não faz justiça nenhuma à vida de Margaret Thatcher. Vemos uma figura debilitada e alucinada, consumida pelas memórias do passado, incerta de quem é e do que é. Tudo o resto vai surgindo aos poucos, como fragmentos da sua loucura, envolta por fantasmas que a avivam dos seus feitos históricos: o marido, os filhos, os netos ou os colegas ministros. É tudo secundário perante os acessos de loucura e alucinação. Actualmente, Thatcher sofre de Alzheimer, é um facto, mas aos 87 anos merecia um filme biográfico mais lúcido (ou apenas, e justamente, um filme biográfico). Em contrapartida, Meryl Streep é tudo aquilo que se pode esperar, perfeita num papel que lhe parece ter sido moldado para vencer o galardão.
O filme de Phyllida Lloyd, que anteriormente havia trabalhado com Meryl Streep em Mamma Mia!, embora tenha algum potencial, é uma grande xaropada que parece andar metido numa alhada que não faz justiça nenhuma à vida de Margaret Thatcher. Vemos uma figura debilitada e alucinada, consumida pelas memórias do passado, incerta de quem é e do que é. Tudo o resto vai surgindo aos poucos, como fragmentos da sua loucura, envolta por fantasmas que a avivam dos seus feitos históricos: o marido, os filhos, os netos ou os colegas ministros. É tudo secundário perante os acessos de loucura e alucinação. Actualmente, Thatcher sofre de Alzheimer, é um facto, mas aos 87 anos merecia um filme biográfico mais lúcido (ou apenas, e justamente, um filme biográfico). Em contrapartida, Meryl Streep é tudo aquilo que se pode esperar, perfeita num papel que lhe parece ter sido moldado para vencer o galardão.
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