segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

AMÁLIA, quis Deus que fosse teu nome


"Amália, O Filme", estreado há algumas poucas semanas e já conta com mais de 100.000 espectadores, anuncia a RTP, um facto a ter em conta no contexto cinematográfico português. Não é só por se tratar de um filme português que leva, e bem, o nosso público ao cinema; não é só isso, não. É porque finalmente alguém se lembrou em homenagear a Rainha do Fado, que fisicamente nos deixou há 9 anos, trazendo ao grande ecrã a vida e obra, ainda que discutível, de Amália Rebordão Rodrigues.
Discutível, dizia eu, porque o filme fica muito aquém do que poderia ser; a vida de Amália esteve sempre ligada tanto ao Fado como ao Cinema, aspecto que me parece ter sido esquecido neste filme. O Fado não é muito mas é bom e adequa-se no contexto do filme; o Cinema não passa de uma mera referência neste filme que acaba sempre por levantar a questão da coerência e da veracidade dos factos apresentados da vida de Amália. Certo é que o grande objectivo deste filme passava por mostrar o lado da vida da fadista desconhecido do grande público mas, daí a centralizarem-se e a martirizarem-se com quem a Amália casou ou deixou de casar...

Começamos no ano de 1991, em Nova Iorque, estava Amália num quarto de hotel. Assaltam-lhe recordações da sua vida sofredora e assim somos transportados à sua infância, a vida que passou junto do avô e longe da irmã, Celeste Rodrigues, futura fadista, embora sob a sombra da irmã Amália.
Os tranportes temporais são constantes ao longo do filme seja por que motivo for. Estabelece-se um paralelismo entre o passado amargurado de Amália e o desgosto de um tumor que a consome no início da década de 90, passando pelas inúmeras tentativas de suícídio que Amália se vitimou.

Técnicamente, pouco ou nada se deve apontar. É um filme muito bem produzido, com excelentes cenários e excelente guarda-roupa. A cinematografia tem muita qualidade também, boas luzes, bem posicionadas, já para não falar da caracterização que se nota ser de grande trabalho e minúcia, especialmente da Amália em Nova Iorque, ainda que o resultado final nos pareça um nadinha estranho. Salvo uma ou outra falha, a sonorização é igualmente boa mas, há-que dar o devido e merecido destaque às sequências musicais cantadas pela própria Amália, retiradas de gravações originais e adaptadas à cena criada. O aspecto final ficou muito bom. Vemos uma Sandra Barata Bello tão semelhante fisicamente a Amália Rodrigues com uma inconfundível voz da própria Amália, ao longo de todo o filme, interpretando os seus mais conhecidos fados.
Todo o elenco se adequa bem ao filme e ao guarda roupa; nada parece descontextualizado e tudo vai encaixando bem; o elenco é todo ele muito bom, cheio de bons artistas portugueses nos mais diversos papéis que interagem muito ou pouco na vida de Amália. É um ponto forte deste filme!

Não é um musical nem aparenta ser e muito menos quer ser uma adaptação do grande espectáculo de Filipe La Féria, Amália. Este sim, que foi o primeiro tributo à Rainha do Fado, está à sua altura e faz justiça à sua memória; não direi, no entanto, que o filme perde em tudo isto. Apenas não o expressa da forma correcta e, com uma produção ao nível desta, poderíamos ter um resultado muito superior, que ensinasse a alma do fado através da alma de Amália. Porque Amália não cantava Fado. Amália era e é o Fado.



sábado, 27 de dezembro de 2008

Fui ACROSTICADO,

há muitos anos atrás, tinha eu 10 ou 11 anos, por uma professora, Maria Helena, se bem me lembro. Ainda, do que me consigo lembrar, escreveu-me ela o seguinte:


Há brilho no teu olhar
E ternura no teu sorrir.
Liberdade!
Deves amar!
E
R


Se a autora vir isto, ainda que pouco provável, agradeço-lhe que mo complete, dada a minha falta de memória em recordar este texto tão bem escrito; senão, deixo-vos a vós, caros leitores deste blogue, o prazer da tarefa de, no vosso subconsciente, tentar adivinhar que versos vinham finalizar este acróstico.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

E por falar em "And I am Telling You I'm Not Going"...

Eis a deslumbrante actuação da Grande Jenniger Holliday no musical "Dreamgirls", 1982.
É do melhor que existe e é de se ficar sem palavras!!!!


Jennifer Hudson

Finalmente a concorrente mais badalada do "American Pop Idol", recentemente Oscarizada com a sua excelente representação em "Dreamgirls", no papel de Effie, lançou o seu primeiro CD, Jennifer Hudson. Não está muito dentro das suas potencialidades e poderia ser um álbum bem melhor. Ainda assim, contamos com a arrepiante "And I am Telling You I'm Not Going" e com uma supresa no mesmo estilo, também surpreendente e brilhantemente interpretado, "Jesus Promised Me A Home Over There"... Valham-nos essas!

De uma amiga, Leslie Cottle, a Poetisa

Reaching





"Smooth but strong, an elegance and subtle beauty sliding through music and time", disse-lhe eu.



segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

ao pai João, à mãe Maria, à irmã Joana e restante família; aos amigos Junk, Bruno, Neca, Marcos, Fred, Ren, Lino e restantes amigos feupais; ao Luís, ao Amilcar, à Lúcia, ao Torcato, à Sarinha e restantes amigos familiares; à Isabel, à Filipa, ao Fernando, ao Zé e restantes Famafest-ianos; à Helga, à Diana, à Tânia, à Regina, ao Jonas, à Licínia, à Carmen, à Rosário, ao João, ao Fernando e restantes Cine'Eco-enses; ao Lauro, à MEC, ao Fred e à Cátia;

...um felicíssimo Natal, do
Helder M.



quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Natal, em Portugal

E esta, hein?!


Os filmes portugueses "Aquele Querido Mês de Agosto" e "A Zona", duas produções de "O Som e a Fúria", estão entre os melhores cinco filmes do ano, escolhidos pelos críticos da revista "Sight and Sound", publicação do British Film Institute.

A revista de crítica mensal lançou a 50 críticos da especialidade o desafio de elegerem os cinco melhores filmes do ano e Kieron Corlen, crítico que escreve regularmente na "Vertigo", colocou na sua lista os filmes de Miguel Gomes e Sandro Aguilar.
O crítico australiano Adrian Martin, que co-edita a revista online "Rouge", deu o primeiro lugar a "Aquele Querido Mês de Agosto", Alexader Horwath, director do Museu do Cinema Austríaco também incluiu o filme de Miguel Gomes na sua lista.

Adrian Martin diz que "Aquele Querido Mês de Agosto" é a «revelação do ano». A película de Miguel Gomes é mistura de documentário, ficção e músca popular, que retrata o interior português.

por: Fátima Casanova
in Revista Take

Lisbon Film Orchestra

Em Lisboa, 19 e 20 de Dezembro, no Cinema S. Jorge.




domingo, 7 de dezembro de 2008

"West Side Story" estreia no Teatro Politeama

“West Side Story - Amor Sem Barreiras”, de Filipe La Féria, ou no seu original “West Side Story”, um dos melhores musicais alguma vez feitos, sobe agora ao palco do Teatro Politeama, em Lisboa.
Originalmente um musical da Broadway e adaptado a cinema em 1961, WSS parte, evidentemente, da obra-prima de Shakespeare, Romeu e Julieta, onde os criadores Jerome Robbins, Arthur Laurentis, Leonard Bernstein e Stephen Sondheim procuram trazer uma adaptação da obra à realidade nova-iorquina dos anos 50/60 – uma história de amor sem limites nascida da rivalidade entre dois gangues.

WSS de La Féria não é mais senão um dos melhores espectáculos portugueses actualmente em cena e que, em muitos aspectos, acaba por competir com o que de bom se faz internacionalmente. Sem dúvidas que é um espectáculo merecedor das mais diversas atenções, muito bem produzido e de uma concepção extraordinária. Atreverei mesmo a dizer que o original WSS é dos meus musicais de eleição e que não fiquei, em nada, desiludido com este espectáculo tendo em vista as já elevadas expectativas. Talvez haja um ou outro pormenor que se aponte, como em tudo mas, na sua globalidade, é um musical de excelência, com muito boa música, muito boa coreografia, muito bom guarda-roupa, muito boa cenografia e muito bons actores.
WSS, à semelhança do filme, começa com uma visão geral da cidade de Nova Iorque, entre a ponte de Brooklyn e os arranha-céus, no horizonte, de semblante definido pelos contrastes de luzes com carros a irem e outros a virem, no passadiço da ponte, aleatoriamente, durante todo o espectáculo valorizam ao máximo o grau de pormenorização do musical. As rivalidades entre os Porto-riquenhos (os “Tubarões”) e os americanos de Nova Iorque (os “Jactos”) são vistas desde o inicio até ao fim, muito constantes, que atravessam pequenas rixas e grandes amores, culminando num desastroso desfecho.


Cenográficamente é impressionante! Desde os edificios de tijolos vermelhos, como abas que deslizam por dobradiças compondo, e ajustando-se entre si, vários e distintos cenários até aos mais simples campos de Basketball e a loja de costura de Anita que se eleva através do fosso. O mesmo não direi da cena em que se dá o Baile entre os grupos de rivais, cujo cenário é muito singular e empobrecido apesar de acabar por ser consumido pela beleza e imponência de todos os outros.
A música e respectiva direcção musical de Telmo Lopes, é muito fiel ao original e, claro, não podia ser mais bem orquestrada do que o que está, acompanhada de algumas belas e outras brilhantes vozes que marcam presença no palco (não esquecendo o trabalho de tradução de Filipe La Féria pelas letras que encaixam muito bem na banda sonora).
Pedro Bargado, num excelente papel de Bernardo, assim como Tiago Diogo no papel de Riff; Destaque para David Ventura como Glad Hand e Tiago Isidro como Sg. Krupke (e Director de Vozes!). Quanto ao par de apaixonados, Tony e Maria, diria que Ricardo Soler é bom e profissional no que faz, tem uma excelente voz, sente o que diz mas falta-lhe na representação; será uma questão de hábito, parece-me, onde menos nervosismo do primeiro dia o levará à quase perfeição. No entanto, Cátia Tavares, em Maria, poderia estar muito melhor do que o que é. Se a nível vocal é muito agudo e desconfortante, a representação acaba por ser ainda pior e, continua-me a parecer, que nem com a prática chegará ao nível mínimo que a personagem exige. Não obstante, continuamos a contar com profissionais como Anabela e Lúcia Moniz, à vez, como Anita – Lúcia Moniz desempenhando muito bem o papel da confiante Anita – incluindo Carlos Quintas como Tenente Schrank.
No meio de tudo isto, apraz-me ainda dizer que as grandes revelações estão mesmo nos mais novos, Jonas Cardoso em Baby John e uma representação surpreendente por Cátia Garcia em Anybodys em que ambas as personagens são martirizadas amigavelmente pelos Jactos, embora por motivos diferentes.


Relativamente à coreografia, diga-se que continua excelente, da autoria de Inna Lisniak, presença constante nos musicais de La Féria e que cada vez se afirma mais e melhor no seu trabalho. O mesmo diria do guarda-roupa que funciona muito bem nos actores e que distingue perfeitamente os vestidos e as sedas dos Porto-riquenhos em contraste com os Jeans dos americanos de gema. De resto, acaba por ser muito fiel ao seu original mas a execução é muito boa e merece ser aqui referido.
Por último, é importante referir que, a nível cénico, o trabalho de La Féria é excepcional apesar de não ser o seu melhor e apenas não concordo com a cena de amor entre Tony e Maria que é feita através de um bailado que se torna desproporcional no contexto de todo o musical. Fora isso, WSS funciona todo ele muito bem como praticamente tudo o que este encenador se dedica fazer, daí que WSS é já de si um espectáculo essêncial e até mesmo obrigatório.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Ruas do Fado



Cai a noite, as estrelas definidas,
como um velho, destruído de amargura.
E as crianças, de negruras recolhidas,
escondidas, sonhos livres de ternura.

Fecho a porta e as ruelas de maldade,
Da janela, num silêncio demorado.
E o meu fado faz-se ouvir em saudade,
velho triste e sofredor, este fado.

E a guitarra, o som vasto de Lisboa,
Lusitana, grita e canta amargurada.
Ah! Meus medos que bailam nesta proa
da caravela em alto mar naufragada.


Nestas ruas, oiço desde pequenino,
esse canto de saudade acompanhado.
E as varinas que na rua apregoam,
pobres sonhos de um menino!,
ouvem tristes, respirando, este fado.




do autor, etc.

Helder Magalhães