Burlesco, de toda e qualquer maneira!
É o que acontece quando se junta Cher, a Diva das Divas, com Christina Aguilera, uma das mais extraordinárias vozes do nosso tempo. Adiciona-se um amável e sarcástico Stanley Tucci e toda uma panóplia de talentosas bailarinas que burlescamente adoçam os números musicais.
Muito embora este "Burlesque" tenha um dos mais básicos argumentos dos últimos (muitos) anos - o que não é, de todo, surpreendente - o resultado final não deixa de ser positivo. Talvez por me dedicar demasiado às artes de palco, e particularmente ao musical, tenha desconsiderado esse princípio, embora não seja uma atitude propriamente ética perante o contexto cinematográfico. Esclareça-se então esse ponto: "Burlesque" é o exibicionismo e o exuberante; são as plumas e as pérolas a adornar um escasso, mas extravagante, guarda-roupa; é o chapéu preto e a cadeira num palco envolto em fumo, numa única silhueta que o único projector permite. "Burlesque" é isso, porque mais não pretende ser.
A gloriosa Cher é Tess, dona teimosa e orgulhosa do Burlesque Lounge. Já teve dias melhores: por um lado pressionada pelo banco ao pagamento de umas hipotecas, por outro lado pressionada por um visionário investidor multimilionário, que já há muito lhe quer ficar com o bar e transformar a fabulosa Sunset Boulevard, em Los Angeles, para seu próprio proveito.
A talentosa Christina é Ali, de Alice; em boa verdade, uma campónia do Iowa, empregada de mesa num bar de segunda, mas com uma extraordinária vontade de mudar de vida e vingar no mundo do show biz, como cantora e bailarina. Deixa o pouco que tinha para trás e aventura-se em LA, como todos os comuns mortais, até se deparar com o dúbio, mas atraente, Burlesque Lounge.
Claramente que o argumento não terá muito por onde fugir, tendo em conta que o começo também não o é propriamente original - lembremo-nos, por exemplo, do "Coyote Ugly" (2000). Mas não creio que este filme, em particular, queira ser visto por esse lado. Fala-se aqui de um filme que pretende, acima de tudo, celebrar um estilo teatral que prima pelo bruto, pelo grotesto, pela sátira ou pela comédia; este será o estilo burlesco, no seu conceito mais básico, aqui muito bem representado, ou recriado, em elegantes elementos cénicos, ou em pequenas encenações que preenchem as noites do Burlesque Lounge, compondo os espectáculos criados por Tess (e posteriormente encabeçados por Ali), mas também nas coreografias claramente inspiradas em Fosse e no seu Cabaret, e nos figurinos, ricos e deslumbrantes, que adornam cada uma das talentosas mulheres (e por vezes homens) que estão em palco, incorporando Marylin Monroe's em playbacks que poucos gostam de assistir - mas isso também fará parte do conceito e da estética do burlesco.
"Burlesque" teve um propósito e conseguiu-o alcançar, embora da forma mais básica. Mas esperar-se-ia muito mais? Eu creio que não, apesar de ter havido pano para muita, mas muita manga. Em parte, o "Moulin Rouge" (2001) teve um propósito semelhante e, sejamos sinceros, conseguiu-o alcançar de uma forma bastante melhor e completamente original (exceptuando as músicas), embora enquadrado numa época dominada pela Boémia - e o boémio é claramente diferente do burlesco.
Importa apenas acrescentar que por este "Burlesque" aparecem temas musicais extraordinários e muito bem interpretados, quase todos enquadrados em números coreográficos inigualáveis, que no conjunto formam pequenas encenações cuidadosamente pensadas. Diria: muita luz, muito fumo, muita cor, muitos glitters e muito queer!
Christina Aguilera dá-se bem melhor a cantar do que a representar, embora esta sua passagem pelo cinema, prevejo, será repetida num outro qualquer papel semelhante; e a Cher é a Cher, por mais que se possa dizer...
Definitivamente, é preciso uma Lenda para se fazer uma Estrela.
2 comentários:
Tópico palpitante neste sítio, visões como aqui está dão motivação ao indivíduo que reflectir aqui .....
Faz muito mais de este blogue, a todos os teus utilizadores.
Caro Anónimo,
Confesso que ponderei bastante se haveria de publicar ou não o seu comentário. Mas acabei por achar que, tal como eu, todos temos direito a uma opinião, ainda que muitas vezes venha escondida numa identidade indecifrável e escrita num português duvidoso.
O meu blogue foi criado para expressar a minha opinião perante os filmes que saíram (ou que vão saindo) e talvez por isso lhe tenha chamado "Cinema Helder Magalhães".
Em todo o caso, o seu comentário tem um aspecto de crítica negativista, nada construtiva; isso, vindo de alguém que, claramente, gosta de "reflectir" deixa-me decepcionado - gosto muito de leitores, daqueles que cá vêm mesmo não tendo a certeza se vão concordar com a minha opinião. E gosto que esses leitores também digam o que pensam e façam uso desta caixa de comentários.
O Senhor Anónimo também assim o entendeu e quis deixar a sua opinião; mas em vez disso veio aqui falar de um filme que provavelmente não viu e, pior de tudo, criticar rudemente (e ironicamente) a selecção de filmes que faço para os posts que escrevo.
Com efeito, saiba que temos de ser capazes de abraçar o Cinema em todo o seu conteúdo e forma. Nem só os filmes a preto e branco e que ninguém entende são o "bom". O que é "bom" e o que é "mau" é subjectivo, tal como o Cinema o é. Cabe-nos a nós, cinéfilos, explorar tanto do que nos é oferecido e concebermos uma opinião por nós próprios, independentemente do que a crítica possa dizer.
Pouco me importa da opinião dos outros: no meu espaço, é a minha opinião que se discute e é o filme que se discute.
Sinta-se à vontade de o fazer; veja os filmes, diga o que pensa. Mas não entre em ironias grotestas e pseudo-intelectuais, porque isso nunca o levará a lugar nenhum. Nem a si nem ao Cinema.
Cumprimentos,
Helder Magalhães
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