"Amália, O Filme", estreado há algumas poucas semanas e já conta com mais de 100.000 espectadores, anuncia a RTP, um facto a ter em conta no contexto cinematográfico português. Não é só por se tratar de um filme português que leva, e bem, o nosso público ao cinema; não é só isso, não. É porque finalmente alguém se lembrou em homenagear a Rainha do Fado, que fisicamente nos deixou há 9 anos, trazendo ao grande ecrã a vida e obra, ainda que discutível, de Amália Rebordão Rodrigues. Discutível, dizia eu, porque o filme fica muito aquém do que poderia ser; a vida de Amália esteve sempre ligada tanto ao Fado como ao Cinema, aspecto que me parece ter sido esquecido neste filme. O Fado não é muito mas é bom e adequa-se no contexto do filme; o Cinema não passa de uma mera referência neste filme que acaba sempre por levantar a questão da coerência e da veracidade dos factos apresentados da vida de Amália. Certo é que o grande objectivo deste filme passava por mostrar o lado da vida da fadista desconhecido do grande público mas, daí a centralizarem-se e a martirizarem-se com quem a Amália casou ou deixou de casar...
Começamos no ano de 1991, em Nova Iorque, estava Amália num quarto de hotel. Assaltam-lhe recordações da sua vida sofredora e assim somos transportados à sua infância, a vida que passou junto do avô e longe da irmã, Celeste Rodrigues, futura fadista, embora sob a sombra da irmã Amália. Os tranportes temporais são constantes ao longo do filme seja por que motivo for. Estabelece-se um paralelismo entre o passado amargurado de Amália e o desgosto de um tumor que a consome no início da década de 90, passando pelas inúmeras tentativas de suícídio que Amália se vitimou.
Técnicamente, pouco ou nada se deve apontar. É um filme muito bem produzido, com excelentes cenários e excelente guarda-roupa. A cinematografia tem muita qualidade também, boas luzes, bem posicionadas, já para não falar da caracterização que se nota ser de grande trabalho e minúcia, especialmente da Amália em Nova Iorque, ainda que o resultado final nos pareça um nadinha estranho. Salvo uma ou outra falha, a sonorização é igualmente boa mas, há-que dar o devido e merecido destaque às sequências musicais cantadas pela própria Amália, retiradas de gravações originais e adaptadas à cena criada. O aspecto final ficou muito bom. Vemos uma Sandra Barata Bello tão semelhante fisicamente a Amália Rodrigues com uma inconfundível voz da própria Amália, ao longo de todo o filme, interpretando os seus mais conhecidos fados. Todo o elenco se adequa bem ao filme e ao guarda roupa; nada parece descontextualizado e tudo vai encaixando bem; o elenco é todo ele muito bom, cheio de bons artistas portugueses nos mais diversos papéis que interagem muito ou pouco na vida de Amália. É um ponto forte deste filme!
Não é um musical nem aparenta ser e muito menos quer ser uma adaptação do grande espectáculo de Filipe La Féria, Amália. Este sim, que foi o primeiro tributo à Rainha do Fado, está à sua altura e faz justiça à sua memória; não direi, no entanto, que o filme perde em tudo isto. Apenas não o expressa da forma correcta e, com uma produção ao nível desta, poderíamos ter um resultado muito superior, que ensinasse a alma do fado através da alma de Amália. Porque Amália não cantava Fado. Amália era e é o Fado.
há muitos anos atrás, tinha eu 10 ou 11 anos, por uma professora, Maria Helena, se bem me lembro. Ainda, do que me consigo lembrar, escreveu-me ela o seguinte:
Há brilho no teu olhar E ternura no teu sorrir. Liberdade! Deves amar! E R
Se a autora vir isto, ainda que pouco provável, agradeço-lhe que mo complete, dada a minha falta de memória em recordar este texto tão bem escrito; senão, deixo-vos a vós, caros leitores deste blogue, o prazer da tarefa de, no vosso subconsciente, tentar adivinhar que versos vinham finalizar este acróstico.
Finalmente a concorrente mais badalada do "American Pop Idol", recentemente Oscarizada com a sua excelente representação em "Dreamgirls", no papel de Effie, lançou o seu primeiro CD, Jennifer Hudson. Não está muito dentro das suas potencialidades e poderia ser um álbum bem melhor. Ainda assim, contamos com a arrepiante "And I am Telling You I'm Not Going" e com uma supresa no mesmo estilo, também surpreendente e brilhantemente interpretado, "Jesus Promised Me A Home Over There"... Valham-nos essas!
ao pai João, à mãe Maria, à irmã Joana e restante família; aos amigos Junk, Bruno, Neca, Marcos, Fred, Ren, Lino e restantes amigos feupais; ao Luís, ao Amilcar, à Lúcia, ao Torcato, à Sarinha e restantes amigos familiares; à Isabel, à Filipa, ao Fernando, ao Zé e restantes Famafest-ianos; à Helga, à Diana, à Tânia, à Regina, ao Jonas, à Licínia, à Carmen, à Rosário, ao João, ao Fernando e restantes Cine'Eco-enses; ao Lauro, à MEC, ao Fred e à Cátia;
Os filmes portugueses "Aquele Querido Mês de Agosto" e "A Zona", duas produções de "O Som e a Fúria", estão entre os melhores cinco filmes do ano, escolhidos pelos críticos da revista "Sight and Sound", publicação do British Film Institute.
A revista de crítica mensal lançou a 50 críticos da especialidade o desafio de elegerem os cinco melhores filmes do ano e Kieron Corlen, crítico que escreve regularmente na "Vertigo", colocou na sua lista os filmes de Miguel Gomes e Sandro Aguilar. O crítico australiano Adrian Martin, que co-edita a revista online "Rouge", deu o primeiro lugar a "Aquele Querido Mês de Agosto", Alexader Horwath, director do Museu do Cinema Austríaco também incluiu o filme de Miguel Gomes na sua lista.
Adrian Martin diz que "Aquele Querido Mês de Agosto" é a «revelação do ano». A película de Miguel Gomes é mistura de documentário, ficção e músca popular, que retrata o interior português.
“West Side Story - Amor Sem Barreiras”, de Filipe La Féria, ou no seu original “West Side Story”, um dos melhores musicais alguma vez feitos, sobe agora ao palco do Teatro Politeama, em Lisboa.
Originalmente um musical da Broadway e adaptado a cinema em 1961, WSS parte, evidentemente, da obra-prima de Shakespeare, Romeu e Julieta, onde os criadores Jerome Robbins, Arthur Laurentis, Leonard Bernstein e Stephen Sondheim procuram trazer uma adaptação da obra à realidade nova-iorquina dos anos 50/60 – uma história de amor sem limites nascida da rivalidade entre dois gangues.
WSS de La Féria não é mais senão um dos melhores espectáculos portugueses actualmente em cena e que, em muitos aspectos, acaba por competir com o que de bom se faz internacionalmente. Sem dúvidas que é um espectáculo merecedor das mais diversas atenções, muito bem produzido e de uma concepção extraordinária. Atreverei mesmo a dizer que o original WSS é dos meus musicais de eleição e que não fiquei, em nada, desiludido com este espectáculo tendo em vista as já elevadas expectativas. Talvez haja um ou outro pormenor que se aponte, como em tudo mas, na sua globalidade, é um musical de excelência, com muito boa música, muito boa coreografia, muito bom guarda-roupa, muito boa cenografia e muito bons actores. WSS, à semelhança do filme, começa com uma visão geral da cidade de Nova Iorque, entre a ponte de Brooklyn e os arranha-céus, no horizonte, de semblante definido pelos contrastes de luzes com carros a irem e outros a virem, no passadiço da ponte, aleatoriamente, durante todo o espectáculo valorizam ao máximo o grau de pormenorização do musical. As rivalidades entre os Porto-riquenhos (os “Tubarões”) e os americanos de Nova Iorque (os “Jactos”) são vistas desde o inicio até ao fim, muito constantes, que atravessam pequenas rixas e grandes amores, culminando num desastroso desfecho.
Cenográficamente é impressionante! Desde os edificios de tijolos vermelhos, como abas que deslizam por dobradiças compondo, e ajustando-se entre si, vários e distintos cenários até aos mais simples campos de Basketball e a loja de costura de Anita que se eleva através do fosso. O mesmo não direi da cena em que se dá o Baile entre os grupos de rivais, cujo cenário é muito singular e empobrecido apesar de acabar por ser consumido pela beleza e imponência de todos os outros. A música e respectiva direcção musical de Telmo Lopes, é muito fiel ao original e, claro, não podia ser mais bem orquestrada do que o que está, acompanhada de algumas belas e outras brilhantes vozes que marcam presença no palco (não esquecendo o trabalho de tradução de Filipe La Féria pelas letras que encaixam muito bem na banda sonora). Pedro Bargado, num excelente papel de Bernardo, assim como Tiago Diogo no papel de Riff; Destaque para David Ventura como Glad Hand e Tiago Isidro como Sg. Krupke (e Director de Vozes!). Quanto ao par de apaixonados, Tony e Maria, diria que Ricardo Soler é bom e profissional no que faz, tem uma excelente voz, sente o que diz mas falta-lhe na representação; será uma questão de hábito, parece-me, onde menos nervosismo do primeiro dia o levará à quase perfeição. No entanto, Cátia Tavares, em Maria, poderia estar muito melhor do que o que é. Se a nível vocal é muito agudo e desconfortante, a representação acaba por ser ainda pior e, continua-me a parecer, que nem com a prática chegará ao nível mínimo que a personagem exige. Não obstante, continuamos a contar com profissionais como Anabela e Lúcia Moniz, à vez, como Anita – Lúcia Moniz desempenhando muito bem o papel da confiante Anita – incluindo Carlos Quintas como Tenente Schrank. No meio de tudo isto, apraz-me ainda dizer que as grandes revelações estão mesmo nos mais novos, Jonas Cardoso em Baby John e uma representação surpreendente por Cátia Garcia em Anybodys em que ambas as personagens são martirizadas amigavelmente pelos Jactos, embora por motivos diferentes.
Relativamente à coreografia, diga-se que continua excelente, da autoria de Inna Lisniak, presença constante nos musicais de La Féria e que cada vez se afirma mais e melhor no seu trabalho. O mesmo diria do guarda-roupa que funciona muito bem nos actores e que distingue perfeitamente os vestidos e as sedas dos Porto-riquenhos em contraste com os Jeans dos americanos de gema. De resto, acaba por ser muito fiel ao seu original mas a execução é muito boa e merece ser aqui referido. Por último, é importante referir que, a nível cénico, o trabalho de La Féria é excepcional apesar de não ser o seu melhor e apenas não concordo com a cena de amor entre Tony e Maria que é feita através de um bailado que se torna desproporcional no contexto de todo o musical. Fora isso, WSS funciona todo ele muito bem como praticamente tudo o que este encenador se dedica fazer, daí que WSS é já de si um espectáculo essêncial e até mesmo obrigatório.
Cai a noite, as estrelas definidas, como um velho, destruído de amargura. E as crianças, de negruras recolhidas, escondidas, sonhos livres de ternura.
Fecho a porta e as ruelas de maldade, Da janela, num silêncio demorado. E o meu fado faz-se ouvir em saudade, velho triste e sofredor, este fado.
E a guitarra, o som vasto de Lisboa, Lusitana, grita e canta amargurada. Ah! Meus medos que bailam nesta proa da caravela em alto mar naufragada.
Nestas ruas, oiço desde pequenino, esse canto de saudade acompanhado. E as varinas que na rua apregoam, pobres sonhos de um menino!, ouvem tristes, respirando, este fado.
Ardem, rubras, como olhos de paixão, como sangue que esvai na imensa verticalidade. O corpo em tecidos rasgados, doentes membranas descompassadas da febril mentalidade num sofrer, morrendo, de ilusão.
E instintos vêm, em consciencialização, que vermelhos rosais em olhos meus crepitam. As lágrimas líquidas no limiar explodindo, estagnado na petrificação dos sentidos que agitam a alma, desprovida de qualquer emoção.
do autor, etc. Helder Magalhães
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Não ensombrarão a tua campa as árvores tristes dos cemitérios. As aves que passarem nos céus não baixarão a beber da água que as chuvas tiverem deixado na urna do teu mausoléu. A Lua, terna amiga dos mortos, não virá beijar por entre a rama negra dos ciprestes, a brancura da tua campa. O orvalho das madrugadas não chorará nas flores do teu jazigo. As abelhas não murmurarão em torno das rosas plantadas sobre o teu corpo. As borboletas brancas não adejarão no fluido de ti mesmo que pudesse romper do seio da terra para a luz da manhã no aroma dos jasmineiros e dos goivos.
(...) E impelui em seguida para dentro da cova uma grande porção de terra amontoada aos seus pés. A terra desabou de chofre sobre o cadáver, levantando um som baço e mole.
excerto de Eça de Queirós e Ramalho Ortigão in O mistério da estrada de Sintra
Londres, 25 de Setembro de 2008. Um dia que, além de memorável, acabou por ter um final excepcionalmente emocionante. Eram sete horas, de um final de tarde cansado e frio; mal adivinhava eu que arrepios me consumiriam naquelas horas seguintes. Entrava expectante, de bilhete na mão, e deliciava-me pelas inúmeras lojas de merchandise espalhadas por todo o foyer.
A entrada para a sala era ordeira apesar das mais de 2.000 pessoas que lá se encontravam, na sua maioria adolescentes, fotografando-se animadamente em conversas casuais. A surpresa em ver um cenário surgir à minha frente deixou-me de boca aberta pela sumptuosidade e pela imponência do que se erguia ao fundo da sala. Um majestoso cenário pormenorizadamente detalhado com inúmeras rodas dentadas, as escadas que se elevavam até ao topo, as eras ressequidas pelo tempo agarradas às paredes, lâmpadas aqui e acolá que iluminavam pontos singulares, a cortina desenhada por um mapa da Terra de Oz, onde bem ao centro brilhava de verde a esplendorosa Cidade Esmeralda e, a encimar toda esta estrutura, o Dragão do Tempo, com olhar de malvadez, a sobrevoar um público rejubilante, de garras afiadas e dentes raivosos e sedentos de morte.
A sala enchia a cada minuto que passava; aumentava o bulício, a inquietação, a expectativa em ver um dos musicais mais aclamados dos últimos tempos. Atrás de mim uma senhora dizia aos seus acompanhantes que estava extremamente excitada! «Este é o único musical sobre o qual não conheço nada.», dizia. «Só sei que conta a história das duas Bruxas de Oz.». «Eu também não. O que li sobre o musical não dizia mais do que isso; é interesssante e entusiasmante não saber de nada.», respondia-lhe um dos acompanhantes.
Vendiam-se os últimos manuais de leitura, os últimos gelados, as últimas bebidas; a orquestra afinava os instrumentos embutida no fosso que lhe era devido. Um compasso de espera; um silêncio de alguns segundos brotava debaixo do palco; anunciava-se que o espectáculo ia começar - «... turn off your cell phones please... »- ouviam-se os últimos tossir; as pessoas recostavam-se na cadeira à procura de um maior conforto.
E, mesmo antes de a luz se apagar, com toda a força e vigor, começou “No One Mourns The Wicked”.As luzes apagam-se, subtilmente, e o espectáculo começa.
Wicked é baseado na obra literária homónima de Greggory Maguire, um autor muito peculiar pelas suas recriações dos mundos literários infantis. É conhecido pelos seus embelezamentos e recriações mais adultas de mundos fantásticos como “Alice no País das Maravilhas” e “Branca de Neve e os Sete Anões”. “O Feiticeiro de Oz” não escapou e Maguire trouxe-nos uma história do fantástico onde explica a vida de Elphaba Thropp, descendente de uma família de respeitados Eminentes, que acaba por se tornar na Wicked Witch of the West (A Bruxa Má do Oeste), assumindo-se assim como uma prequela do grande clássico “The Wizard of Oz”.
Se o livro é surpreendente, o musical acaba por ser ainda mais. Não se pode esperar por uma adaptação a par e passo do que se lê. Wicked, o musical, tira o melhor partido do livro, pega no essencial, elimina o supérfluo; as músicas surgem naturalmente e não são impregnadas à força no contexto da cena. Os cenários alteram-se mecanicamente com uma subtilidade impressionante. Os actores, de renome, traçam com afinco a personagem que lhes é afecta. Uma orquestra competíssima brinda a cena com a maior das emoções.
“Wicked” começa brilhantemente, entre bailarinos e cantores, os Cidadãos de Oz, a louvarem a morte da Bruxa com “No One Mourns The Wicked”. O Dragão do Tempo, no topo do cenário, ganha vida e liberta um fumo cinzento pela boca e narinas – “onde há fumo, há fogo”, pensava eu –, uns seres aterrorizadores com asas (mais tarde apercebi-me que eram uma espécie de macacos voadores) desciam por cordas desde o topo até ao palco; invadiam as rodas dentadas, rodavam as roldanas e, ao som da música, o pano ergue-se revelando um cenário deslumbrante onde os Cidadãos de Oz gritavam as boas novas, anunciando a morte da Bruxa Má, que de resto é o final visto em “The Wizard of Oz”.
Como que a amenizar o ambiente, bem lá em cima, dentro de uma bolha, surge Glinda, a Fada Boa do Norte, a conselheira fiel dos Cidadãos. A pedido de muitos, Glinda conta o passado de Elphaba, na continuação da primeira cena musical, desde o seu atribulado nascimento até aos tempos em que passou a frequentar Shiz, a escola universitária de Oz. É nesta escola que Elphaba trava conhecimento com Galinda (futuramente Glinda) ao ser sua companheira de quarto; nesta situação, duas personagens de características e modos de vida totalmente distintos aprendem a conviver e a respeitar-se mutuamente, fazendo crescer uma amizade que terá as suas consenquências (bem gravosas) no futuro.
Mais do que mágico, Wicked transporta-nos para um mundo sem limites, «Unlimited. Together we’re unlimited» dizia Elphaba a Glinda. Um mundo fantástico e irreverente, de sonhos e encantos de esmeralda, onde «Everyone deserves a chance to Fly», dizia O Feiticeiro a Elphaba.
Na linha de acção de “Wicked”, destaque dado à abertura (já explicado) e às sucedentes cenas musicais com “The Wizard and I” – onde Elphaba expressa o sonho e a vontade em se encontrar com esse misterioso homem dito Feiticeiro –, “What is this Feeling” – a primeira cena que introduz as duas personagens Elphaba e Galinda no mesmo espaço – e “Popular” – de um divertimento excepcional, onde Galinda opta por tornar Elphaba numa rapariga atraente e popular em Shiz. Até ao final do Acto I, toda a sequência de músicas são deslumbrantes, salientando “I’m not that Girl” e “One Short Day” – a viagem à Cidade Esmeralda das duas amigas para se encontrarem com o Feticeiro.
Este Acto I é terminado com uma das mais emocionantes cenas que alguma vez vi em palco, fantásticamente orquestrado, um desafiar da gravidade como nunca. Elphaba procura uma fuga possível das garras maliciosas do Feiticeiro que não hesita em ordenar a sua prisão para seu prórpio benefício; no “Grimário” vem essa possível solução, com Glinda (antes Galinda) ao seu lado, pressionadas num beco qualquer de Oz, a guarda do Palácio vibrante e ofensiva e Madame Morrible, interesseira e mesquinha, espalhando pela Cidade a malvadez de Elphaba, ainda que injustamente. Apressada e com medo, Elphaba coloca as suas esperanças numa velha vassoura que a fará voar para bem longe do Feiticeiro e da sua poderosa brigada.
“Defying Gravity” surge imponente, assombrosa, arrepiante, emocionante, mágica, de se ficar sem fôlego, consumidos por um estrondoso e astronómico sobrevoar, pois todos merecemos essa oportunidade, segundo o Feiticeiro – é mesmo caso para dizer que o feitiço se virou contra o Feiticeiro.
Repare-se na despedida das duas amigas, desenjando felicidades mutuas, na esperança de um reencontro futuro; Glinda que coloca um velho trapo negro à volta de Elphaba para não tremer e Elphaba eleva-se, a capa a esvoaçar, cobrindo todo o cenário, em direcção a um topo, sem limites.
A explosão de aplausos é inevitável.
Gritos de excitação, “Bravos” de entusiasmo.
No segundo Acto, “Wicked” traz novos ambientes, novos cenários e novos ânimos. A acção é mais tenebrosa, os Cidadãos de Oz odeiam injustamente a Bruxa; Nessarose, irmã de Elphaba sobe ao trono como Eminente Thropp, de carácter severo, injusto, apelidada de Bruxa Má do Este. Apesar de tudo, não se deixará de referir a importância que Fiyero tem na vida de Elphaba, que o ama mas não quer deixar transparecer, por amizade a Glinda.
Fiyero acaba por ser detido sob ordens do Feiticeiro, tocando no coração de Elphaba; sente-se angustiada, quer chegar até ele, salvá-lo, mas em vão. “No Good Deed” revela-se como a cena mais surpreendente deste Acto, entre magias negras, proferidas sob um cenário tenebroso, de fumos e azuis de meia-noite-no-cemitério, eleva-se Elphaba e eleva-se o Grimário.
Tiram-lhe o que mais falta lhe faz e Elphaba admite-se como Wicked, Malvada, disposta a enfrentar tudo e todos para reaver quem ama. «I’m WICKED, through and through, since I cannot succeed, Fiyero saving you I promise no good deed».
A interação com “O Feiticeiro de Oz” é bastante evidente, interligando-se estas duas histórias quando uma tempestade atinge Oz e Dorothy, acompanhada do irritante cãozinho, cai com a casa em cima de Nessarose, irmã de Elphaba; As histórias cruzam-se mas, tudo o que se vê n’ “O Feiticeiro de Oz” é agora acompanhado sobre o ponto de vista da Bruxa e não de Dorothy na sua demanda até à Cidade Esmeralda.
Como Wicked acaba já todos o sabemos:
«Water will melt her» balbuciava-se por toda a Terra de Oz…
Wicked está em cena no Apollo Victoria Theatre, em Londres, desde 2006 e já arrecadou inúmeros prémios, incluindo Emmy e Grammy Awards, sendo actualmente considerado o “Espectáculo Nº1 de Londres”.
De Terça - feira a Domingo às 19.30h; Quarta-feira às 14.30h e 19.30h.
O artista é o criador de coisas belas. O objectivo da arte é revelar a arte e ocultar o artista. O crítico é aquele que sabe traduzir de outro modo ou para um novo material a sua impressão das coisas belas. A mais elevada, tal como a mais rasteira, forma de crítica é um modo de autobiografia. Os que encontram significações torpes nas coisas belas são corruptos sem sedução, o que é um defeito. Os que encontram significações belas nas coisas belas são os cultos, Para esses há esperança. Eleitos são aqueles para quem as coisas belas apenas significam Beleza. Um livro moral ou imoral é coisa que não existe. Os livros são bem escritos, ou mal escritos. E é tudo. A aversão do século XIX pelo Realismo é a fúria de Caliban ao ver a sua cara ao espelho. A aversão do século XIX pelo Romantismo é a queixa de Caliban por não ver a sua cara ao espelho. A vida moral do homem faz parte dos temas tratados pelo artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito de um meio imperfeito. Nenhum artista quer demonstrar coisa alguma. Até as verdades podem ser demonstradas. Nenhum artista tem simpatias éticas. Uma simpatia ética num artista é um maneirismo de estilo imperdoável. Um artista nunca é mórbido. O artista pode exprimir tudo. Sob o ponto de vista da forma, a arte do músico é o modelo de todas as artes. Sob o ponto de vista do sentimento, é a profissão de actor o modelo. Toda a arte é, ao mesmo tempo, superfície e símbolo. Os que penetram para além da superfície, fazem-no a expensas suas. Os que lêem o símbolo, fazem-no a expensas suas. O que a arte realmente espelha é o espectador, não a vida. A diversidade de opiniões sobre uma obra de arte revela que a obra é nova, complexa e vital. Quando os críticos divergem, o artista está em consonância consigo mesmo. Podemos perdoar a um homem que faça alguma coisa útil, contanto que a não admire. A única justificação para uma coisa inútil é que ela seja profundamente admirada. Toda a arte é completamente inútil.
All right, enough - so be it So be it, then: Let all Oz be agreed I'm wicked through and through Since I can not succeed Fiyero, saving you I promise no good deed Will I attempt to do again Ever again No good deed Will I do again!
Corria o ano 2000, quando o realizador Stephen Daldry trouxe ao grande ecrã uma obra britânica que veio a ser largamente aclamada pela crítica e vencedora de inúmeros prémios, incluindo 3 nomeações para os Oscars. Originalmente tinha o nome Dancer (working title), mas logo veio a chamar-se de Billy Elliot.
A acção desenvolve-se no Nordeste de Inglaterra, na década de 80. A indústria mineira sofria uma grande crise e os trabalhadores lutam a favor de melhores condições de trabalho. A greve instala-se durante dias e dias, a polícia não sai das ruas, o clima é intenso e pouco acolhedor. Billy Elliot é um rapaz de 12 anos que vive no seio de uma família com poucas condições. A mãe morreu, o pai é um dos mineiros em greve, o irmão (mais velho), também mineiro e revolucionário, e a avó, por quem Billy tem grande afecto e carinho - uma família guiada pelas leis do conservadorismo, onde a diferença é pouco ou mal aceite. A pedido e orgulho do seu pai, Billy frequenta as aulas de boxe, 50 pence por aula, que o ridicularizam dada a sua fraca capacidade pugilista. É no final de umas dessas aulas que Billy tem de entregar as chaves do pavilhão a uma tal Mrs. Wilkinson, também professora, que dará a aula ao final do dia. Mrs. Wilkinson ensina ballet a um grupo de raparigas (incluindo à sua filha) com a maior paciência e falta de vontade que pode existir no mundo. É este o primeiro contacto que Billy tem com a dança, com o ballet, com as piruetas e os pliês. Inicia as aulas de ballet por curiosidade, transferindo os 50p do boxe para o ballet, mas cedo desenvolve um gosto especial e mostra um talento escondido que deixa em Mrs. Wilkinson uma esperança de ensinar um aluno com capacidades para chegar longe. Billy opta por não contar a ninguém que recebe lições de dança e sabe bem que a família iria desaprovar esta sua escolha.
O Musical Billy Elliot desenvolve-se com a mesma linha de acção. É encenado por Stephen Daldry (que realizou o filme) e conta com uma banda sonora de excelência, criada por Elton John. Este pequeno mundo de Billy Elliot é deveras inspirador e facilmente se transpõe em cada um de nós. O perseguir e o realizar de um sonho, um tempo de mudança e revolução que dificultam os meios, uma família em transformação que se conforma... São pequenas lembranças que fazem parte da vida de muitas pessoas, pequenas memórias que nos perseguem desde há muito tempo e assim nos ligámos muito facilmente a tudo o que vemos em Billy Elliot. É uma história (um filme e um musical) extremamente bem concebida, créditos dados a Lee Hall que se baseou na própria infância para criar Billy Elliot, com uma desenvoltura muito lógica e real. Tem pormenores que conseguem calar muitas bocas, insinuações e fobias (falo, claro, do personagem Michael, amigo de Billy), onde o que se estava a espera não é o que realmente acontece. E por isso (e por muito mais) é que Billy Elliot existe e merece existir.
O espectáculo musical é fantástico! Comparando com o filme, a adaptação é excelente e não podia ter sido feita da melhor maneira. A inspiração é a mesma, o humor continua britânico, os british accents também, as musicas foram feitas e recriadas a partir de muitos diálogos do filme; é visível e inevitável a intrínseca ligação entre o filme original e o musical adaptado. As cenas deslizam pelo palco e a alteração dos cenários é subtilmente bem feita. Entre peças desmontáveis, controladas mecânicamente, que encaixam e desencaixam em poucos segundos, tranformando a casa de Billy (com um quarto na 2ª assoalhada, por sobre a cozinha, a elevar-se por cima das escadas) numa rua revolucionária e infestada de mineiros a lutar pelos seus direitos contra as forças de intervenção ou até no proprio pavilhão onde Billy recebe as aulas de ballet da Mrs. Wilkinson.
Trailer de Billy Elliot The Musical
O vídeo é bastante exemplificativo do que se pode encontrar em palco, no caso do espectáculo de Londres, no Victoria Palace Theatre (também é possível ver o musical em Sydney e, a partir deste mês de Outubro, na Broadway, Nova Iorque). A direcção musical é excelente, muito bem instrumentada e acompanhada vocalmente por óptimos actores. Desde um Layton Williams no papel de Billy, arrebatador e incrivelmente talentoso para a dança (que nunca tinha praticado), musica e representação, a par do colega Shaun Malone, no papel de Michael que conseguiu (e muito bem) pôr os espectadores de boca aberta com qualquer umas das cenas em que entra, não desfazendo a actriz Jackie Clune no papel de Mrs. Wilkinson, ex Donna do musical Mamma Mia!, inúmeras interpretações no West End e em televisão (incluindo a série Eastenders), assim como a veterana Ann Emery como Grandma (Avó), também com papéis variadísimos no West End ao longo da carreira, como em My Fair Lady e Cats, a título de exemplo, incluindo a famosa série britânica S Club 7 - uma avó dinâmica, apesar da idade, que em tempos quis ser bailarina, executando fantásticas cenas de dança e canto que passam do drama à comédia num ápiçe.
Sequência musical Solidarity e as alterações de cenários
É de salientar também as presenças de Alex Delamere no papel de Mr. Braithwaite (Anna Karenina, West Side Story, Cabaret, Fiddler On The Roof em teatro, e ainda em cinema no filme 28 Weeks Later de Danny Boyle), Phil Whitchurch no papel de Pai (com créditos em cinema e televisão, entre os quais Beowulf & Grendel, Treasure Island, The English Patient e Macbeth), enfatizando especialmente o actor/bailarino Barnaby Meredith, no papel de Older Billy (Billy adulto) com um curriculum espantoso na área do Ballet, uma presença em palco que intimida qualquer um e nos deixa mais do que espantados pela perfeição dos seus movimentos corporais na execução de uma das mais belas cenas do musical, a partir do bailado O Lago dos Cisnes de Tachaikovsky.
Fantastica cena musical The Swan Lake
Em suma, é um espectáculo que nos faz bem à alma, que começa bem e acaba ainda melhor. O leque de músicas é todo muito bom, desde a abertura com When The Stars Look Down, seguindo-se a primeira aula de ballet com Shine, conduzida por Jackie Clune, passando logo pelo brilharete de Ann Emmery com The Grandma's Song. Depois de Solidarity, interpretada pelo elenco completo (ensemble cast), vem a cena arrebatadora de Shaun Malone com Expressing Yourself, com fantásticas alterações de cenários e de luzes, contemplado ainda com uma óptima coreografia e interpretação tanto do Shaun Malone (Michael) como de Layton Williams (Billy Elliot). Seguem-se as cenas musicais The Letter (onde Billy relembra a mãe através de uma carta por ela deixada) e Born To Boogie (que introduz a aprendizagem de Billy no ballet) , terminando o Acto I com uma cena assustadoramente arrepiante, a Angry Dance de Billy Elliot.
Cena musical Born To Boogie
Excelente cena musical Angry Dance
Ainda antes do Acto II, há tempo para uma introdução à festa de Natal, com Merry Christmas Maggie Thatcher, através de uma original cena de stand-up comedy conduzida por Phil Whitchurch. Entre muitas outras que se seguem, paragem obrigatória na cena Electricity, onde Billy explica o que sente enquanto dança. Uma explicação divinal, em música, em dança e em representação, que facilmente nos comove e arrepia.
Espectacular cena musical Electricity
No final do espectáculo as apresentações são feitas, claro está, através de uma cena musical onde todos os actores marcam presença e deixam bem marcada a sua qualidade enquanto artistas. Mais do que isto seria exagero referir aqui. Para quem quiser mais só tem mesmo é que ir ver o espectáculo ou, à falta de melhor, pode sempre contentar-se com o filme que, apesar de não ser musical, tem o mesmo espírito, a mesma dedicação e o mesmo entusiamo com que este musical foi realizado. Dou os meus sinceros parabéns a todos e um obrigado pelo excelente espectáculo.
Video-clip Electricity de Elton John.
Considerações: Peço desculpa pela baixa qualidade dos vídeos (e áudio) mas é o que é possível arranjar para a ilustração desta revisão.Apenas o vídeo correspondente à cena Solidarity é interpretada por Layton Williams no papel de Billy Elliot; as restantes são interpretadas por Leon Cooke. Os vídeos não foram gravados por mim, apenas me limitei a colocar o conteúdo disponível na internet.
O dia começou bem cedo, de madrugada, o sol por nascer começava escassamente a raiar. Ainda me esperavam algumas horas de viagens em transportes públicos, comboio, metro, avião e autocarro, até ao destino final.
Mas lá cheguei, a tempo e a horas, apesar de um ou outro contratempo para encontrar a "coach station" - o aeroporto tinha a sua confusão... A transição era gradual, desde uma periferia, calma e campestre, até a um centro, caótico e citadino. A sensação de estar num país diferente era sentida ao máximo, pela organização, pelo estilo vitoriano, pelo tráfego no sentido contrário... À chegada ao grande centro de Londres, com a fome a apertar, não havia mais nada a fazer senão almoçar. E foi mesmo ali, na Victoria Coach Station, o primeiro almoço, acompanhado por uma boa Coca-Cola (que curiosamente tinha o mesmo sabor que as de cá!).
O tempo será talvez o que mais usualmente caracteriza a cidade, sempre escura, cinzenta, fria. Tive a sorte de não ter chovido, uma ou outra gota terá caído à chegada, ou até mesmo quando passeava pela Oxford Street, mas nada mais do que isso. Manhãs de nevoeiro, temperaturas baixíssimas tanto ao amanhecer como ao anoitecer, mas tardes amenas e por vezes solarengas. Nada melhor do que, depois de andar umas largas horas por entre as ruas de Londres, chegar a um Hyde Park e simplesmente ficar ali sentado, a descansar, a ler, a comer, que de resto era o que faziam os londrinos que lá estavam.
As ruas eram mais do que movimentadas, eram excessivamente movimentadas, autocarros a irem, taxis a virem, buzinas e sirenes vindas de todos os lados, os motores dos veículos a acelerarem em todas as ruas, carros da esquerda, outros da direita, sinalizações na própria estrada indicavam aos turistas (e aos ingleses também) para onde olhar, "Look Right ->", " <- Look Left", pessoas que iam para o emprego, outras que passeavam, atravessava-se a rua logo que houvesse oportunidade, independentemente da sinalização. Um ritmo frenético acompanhava a cidade de manhã à noite sem excepção e tudo se processava ao dobro ou triplo da velocidade a que estamos acostumados. Por um lado ficava-se impressionado com o estado caótico do tráfego, por outro lado não era nada mau acompanharmos essa velocidade para nos esquecermos e aquecermos do tempo gélido que (por vezes) se sentia. É fantástico vermos as ruas recheadas de casas victorianas, pubs e outros pequenos bares em algumas esquinas, com enchentes de pessoas quando regressavam do trabalho. Os autocarros vermelhos e os taxis pretos preenchiam o cenário tipicamente londrino, senhor de si só, muito elegante, verybritish.
Acho interessante referir aqui o típico estilo de vida de um habitante londrino. Primeiro, o caminho para o emprego que é efectuado a pé, de bicicleta ou transporte público - eram raros os que levavam o próprio carro para o emprego. O almoço, tal como eu fazia, era dos rápidos, entre sandes do Marks & Spencer, os Quarter Pounders do McDonald's e o frango do KFC, para não falar do famoso Fish & Chips. Não seria a melhor refeição mas era o que se arranjava em pouco espaço de tempo. Ao final do dia os pubs enchiam, pessoas vindas de todos os lados de Londres que se reuniam depois do horário do emprego a beber algumas cervejas antes do jantar. Depois disso, vinha a melhor parte... Teatros em todas as esquinas do West End. Esquinas e não só. Era só pedir que eles apareciam. Painéis e neons anunciavam os espectáculos musicais, vendiam-se os últimos bilhetes para a sessão da noite. Todos os espectáculos começavam as 7.30 p.m. e prolongavam-se até às 10.30 p.m.. Pessoas de todas as idades, famílias e grupos de jovens adolescentes aglomeravam-se às portas dos teatros à espera de poderem entrar. É um estilo de vida que eu adoraria ver em Portugal... Portanto, e como estava lá para aproveitar ao máximo, tive a felicidade de poder ir ver 2 espectáculos musicais, o Wicked e o Billy Elliot.
Apollo Victoria Theatre
Lotação de 2400 lugares
WICKED
Elenco: Alexia Khadime Dianne Pilkington Oliver Tompsett Harriet Thorpe Desmond Barrit Caroline Keif Jeremy Legat Andy Mace
Victoria Palace Theatre
Lotação de 1500 lugares
BILLY ELLIOT
Elenco: Layton Williams Jackie Clune Phil Whitchurch Chris Lennon Ann Emery Trevor Fox Alex Delamere Sara Poyzer Barnaby Meredith Shaun Malone Scarlet Embleton
Como é certo e sabido, há poucas cidades como Londres, repletas de monumentos para ver, de espaços para visitar, de coisas para fazer... Apesar de pouco tempo, consegui ver e fazer grande parte do que tinha inicialmente previsto. Desde a usual passagem pela Houses of Parliament, conduzida por um Big Ben austero e meticulosamente talhado, a imponente Tower of London, a majestosa Tower Bridge, a sempre chique e movimentada Piccadilly, a larga praça Trafalgar Sq. rodeada pela National Gallery, o real Buckingam Palace, a belíssima e autoritária St. Paul's Cathedral e ainda o magnífico e inovador British Museum...Nomeio estes, entre muitas outras coisas fantásticas que podemos encontrar em Londres, claro. É espantoso a facilidade com que nos deparamos com magnificos edificios, igrejas, teatros, galerias e outros tais através de um simples passeio. Só mesmo experimentando pra se saber ao certo dessa facilidade!
E assim foi a minha breve passagem por Londres, repleta de surpresas ao virar de cada esquina. Uma cidade que me surpreendeu positivamente (claro), em todos os pequenos e grandes aspectos a considerar - que mais hei-de dizer... Quanto aos pequenos pormenores da viagem, esses guardo-os para mim e prefiro não os partilhar. São pequenas emoções e sensações que são só nossas e que connosco devem ficar. Façam o mesmo. É pertinho, é agradável e vale por tudo na vida. Eu mal posso esperar pela próxima oportunidade!
A comemorar o 10º aniversário do Cineclube de Joane, amanhã dia 25 de Setembro, pelas 21.30h, no Grande Auditório da Casa das Artes de V. N. Famalicão, a exibição do clássico mudo de F. W. Murnau, com banda sonora ao vivo pelos Biarooz
A entrada é gratuita para associados, 4€ para estudantes e 5€ para o público em geral. No final haverá bolo e champagne para comemorar!!! Infelizmente não vou poder ir. Estarei em Londres noutro género de divertimento, mas certamente que se estivesse por cá iria a este espectáculo.
Sinopse:
Knock, um agente imobiliário, recebe um pedido do conde Orlok para comprar uma casa. Este manda o seu empregado, Huttler, viajar até à terra do conde, a Transilvânia, para concretizar o negócio. Orlok não é mais que Nosferatu, um vampiro que faz tudo para conquistar a bela mulher de Huttler que, segundo ele, tem um belo pescoço... Versão não autorizada de “Drácula” de Bram Stroker. Para poder fazer este filme, Murnau teve de alterar o nome das personagens para não ser confundido com o original. No entanto, foi processado em tribunal pela viúva de Stroker e este ordenou que todas do filme fossem destruídas. Felizmente, algumas salvaram-se... Realizado por F.W. Murnau em 1922, "Nosferatu, A Symphony of Horror" é talvez a melhor e mais assustadora versão cinematográfica da novela de Bram Stoker. Obra-prima do cinema mudo, "Nosferatu" viria, décadas mais tarde, a inspirar a composição de diversas bandas sonoras, muitas vezes interpretadas ao vivo durante a projecção do filme.
Ficha Técnica
Título Original: Nosferatu, Eine Symphonie Des Grauens (Alemanha, 1922, 93 min) Realização: F. W. Murnau Interpretação: Max Schreck, Gustav von Wangenheim, Greta Schoeder, Georg H. Schnell Argumento: Henrik Galeen Produção: Enrico Dieckmann, Albin Grau Fotografia: Fritz Arnowagner Música: Hans Erdmann Classificação: M/12 anos
BIAROOZ
Em 2003, C. Ricardino criou um projecto musical e gravou, electronicamente, alguns temas que compilou numa maqueta. Mais tarde, reuniu João Coutada, José Novo e João Dias. Os quatro músicos decidiram apresentar BiarooZ, manifestando uma vontade conjunta de explorar a sua actividade a partir do suporte electrónico, assim como todas as manifestações artísticas que lhe possam estar associadas. Nas suas composições, as programações digitais e samplers encontram-se em simbiose com instrumentos convencionais (guitarra, baixo, piano e bateria). O produto final soa a um rock electrónico que facilmente se torna ambiente, “jazzy” ou um poderoso (quase) punk rock. Ao vivo apresentam sessões de vídeo numa sincronização harmónica com o som; são a banda sonora perfeita para os seus filmes; imagens com sequências estranhas, rudes e preenchidas de cores poderosas.
Experimental/ Electrónica/ Rock C.Ricardino: composição electronica e programação, guitarra, baixo, teclado João Coutada: baixo, guitarra, teclado João Dias: guitarra, piano, teclado José Novo: bateria http://www.honeysound.com/ Mysapce: http://www.myspace.com/biarooz
"O espírito de Iura era extremamente complexo e confuso; suas opiniões, suas maneiras de pensar, suas tendências, caracterizavam-se pela originalidade. Era dotado de uma sensibilidade requintada e as suas reacções eram sempre inesperadas. Apesar de toda a fascinação que a arte e a história nele exerciam, Iura não hesitara na escolha do curso. Assim como a alegria natural ou a predisposição para a melancolia não legitimavam uma profissão especial, assim - pensava ele - a arte não constituía também uma vocação. A Física e as Ciências Naturais interessavam-no muito e considerava que na vida prática era necessário escolher um ofício útil à sociedade. Matriculara-se, portanto, em Medicina. (...) Iura sabia pensar e escrever. Desde o liceu que sonhava com uma obra em prosa, um livro de «biografias» em que, como cargas explosivas, se escondessem as ideias e as imagens que lhe enchiam o espírito. Mas era ainda muito novo para realizar um tal livro e teve de se contentar com escrever versos, à semelhança de um pintor que passasse a vida a desenhar esboços para o grande quadro. Iura perdoava a si mesmo o pecado de haver escrito tais versos, pelo que neles encontrava de enérgico e de original. Essas qualidades, a energia e a originalidade, eram, a seus olhos, o que a arte continha de essencial pois que, quanto ao resto, a arte era vã e inutil - assim pensava."
in "O Doutor Jivago", Boris Pasternak Ed. Circulo de Leitores, Janeiro de 1975
Se conseguirem, façam as comparações. Sou ou não sou assim?