"O espírito de Iura era extremamente complexo e confuso; suas opiniões, suas maneiras de pensar, suas tendências, caracterizavam-se pela originalidade. Era dotado de uma sensibilidade requintada e as suas reacções eram sempre inesperadas.
Apesar de toda a fascinação que a arte e a história nele exerciam, Iura não hesitara na escolha do curso. Assim como a alegria natural ou a predisposição para a melancolia não legitimavam uma profissão especial, assim - pensava ele - a arte não constituía também uma vocação. A Física e as Ciências Naturais interessavam-no muito e considerava que na vida prática era necessário escolher um ofício útil à sociedade. Matriculara-se, portanto, em Medicina.
(...)
Iura sabia pensar e escrever. Desde o liceu que sonhava com uma obra em prosa, um livro de «biografias» em que, como cargas explosivas, se escondessem as ideias e as imagens que lhe enchiam o espírito. Mas era ainda muito novo para realizar um tal livro e teve de se contentar com escrever versos, à semelhança de um pintor que passasse a vida a desenhar esboços para o grande quadro.
Iura perdoava a si mesmo o pecado de haver escrito tais versos, pelo que neles encontrava de enérgico e de original. Essas qualidades, a energia e a originalidade, eram, a seus olhos, o que a arte continha de essencial pois que, quanto ao resto, a arte era vã e inutil - assim pensava."
Apesar de toda a fascinação que a arte e a história nele exerciam, Iura não hesitara na escolha do curso. Assim como a alegria natural ou a predisposição para a melancolia não legitimavam uma profissão especial, assim - pensava ele - a arte não constituía também uma vocação. A Física e as Ciências Naturais interessavam-no muito e considerava que na vida prática era necessário escolher um ofício útil à sociedade. Matriculara-se, portanto, em Medicina.
(...)
Iura sabia pensar e escrever. Desde o liceu que sonhava com uma obra em prosa, um livro de «biografias» em que, como cargas explosivas, se escondessem as ideias e as imagens que lhe enchiam o espírito. Mas era ainda muito novo para realizar um tal livro e teve de se contentar com escrever versos, à semelhança de um pintor que passasse a vida a desenhar esboços para o grande quadro.
Iura perdoava a si mesmo o pecado de haver escrito tais versos, pelo que neles encontrava de enérgico e de original. Essas qualidades, a energia e a originalidade, eram, a seus olhos, o que a arte continha de essencial pois que, quanto ao resto, a arte era vã e inutil - assim pensava."
in "O Doutor Jivago", Boris Pasternak
Ed. Circulo de Leitores, Janeiro de 1975
Ed. Circulo de Leitores, Janeiro de 1975
Se conseguirem, façam as comparações.
Sou ou não sou assim?
Sou ou não sou assim?
1 comentário:
"Apesar de toda a fascinação que a arte e a história nele exerciam, Iura não hesitara na escolha do curso."
É mentira! :P
Enviar um comentário