segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

CINEMA: Was nützt die Liebe in Gedanken

Além da grande temporada que antecipa os Óscars e que me faz querer acompanhar e ficar a passo dos possíveis premiados de 2008, outros filmes, de outros Países, de outros géneros são também do meu interesse, como é obvio. Ultimamente vi um que, particularmente, acho interessante partilhar aqui, por motivos vários.


"Was nützt die Liebe in Gedanken" ou, se preferirem, "Love in Thoughts", nunca estreou em Portugal. Vem da Alemanha, do ano 2004, ganhou alguns prémios interessantes, na sua maioria para os actores, sendo precisamente esse um dos motivos que me levou a ver este filme. Como grande admirador do trabalho de Daniel Brühl, um dos melhores actores da sua geração (tem 30 anos, se precisarem de saber), não pude deixar de ver este "Amor em Pensamentos" (seria algo do género se tivessemos cá o filme), baseado numa história verídica que aconteceu na Alemanha em 1927. É sobretudo uma tragédia que tem por base uma série de desavenças amorosas entre amigos. Uma tragédia que abalou meia Alemanha, e sabe Deus quem mais, sobre um grupo de 4 jovens que viveram para amar e morreram por amar. Não esqueçamos duas coisas: estamos perante um filme baseado em factos históricos que são contados tendo em vista os acontecimentos reais, ainda que, já o disse anteriormente e corro o risco de me repetir, os mesmo factos históricos possam ser embelezados por outros momentos adicionais que consigam conduzir o espectador a outras perspectivas; além disso, o que nos é contado aconteceu em 1927 (ano em que estreia "Metropolis" de Fritz Lang, veja-se só!), antes de haver um Hitler no poder, antes de uma Segunda Guerra Mundial e muito antes de um Muro em Berlim que dividia, política e físicamente, a Alemanha em duas. Em 1927 a Alemanha encontrava-se num período democrático-republicano, que mais tarde veio a ser conhecido como a "Alemanha Weimar" ou "República Weimar". Isto porque, depois da Primeira Guerra Mundial, a Assembleia Nacional Alemã conciliou na cidade de Weimar para decretar a Nova Constituição do Reich - corrigam-me se estiver errado.
É precisamente por isto que, embelezado ou não, esteja ele bem ou mal contado, o filme consegue transparecer (e bem) a severidade dos problemas. Por um lado, diria que todo o filme está envolto de um conceito muito liberalista e que me deixa desacreditado sabendo que estavamos em 1927. Por outro lado, a ter acontecido o que aconteceu e lembrando que aquilo era 1927, deixa-nos cá a pensar que o caso foi duro e atacou em força a sociedade Alemã.

O filme conta, desta forma, uma verdadeira história de amor que culmina num final quase apoteótico. Não é emocionante, nem é daqueles finais que nos deixam sem fôlego. É um final com o mesmo ritmo que o filme, mas as imagens sim, são emocionantes, os actores também, muito expressivos. Começamos na actualidade, num tribunal, discutindo-se um caso perante o juiz. No lugar dos réus, levanta-se Paul (Daniel Brühl) que descortina, muito a medo e em frases soltas, o que estamos prestes a assitir. Eleva-se uma voz que lê uma carta, redigida por Paul, onde o mesmo assume a sua fraqueza de amores por uma bela jovem, saberemos mais tarde tratar-se de Hilde (Anna Maria Mühe), e que está disposto a matar em prol do amor que sente e que o faz sofrer.
A partir daqui somos transportados para uns tempos antes, não sei bem para quando, mas algures em 1927, para uma Escola Secundária em Berlim, se também não estou em erro, para conhecermos os dois pontos fulcrais desta história: Paul Krantz e Günther Scheller. São dois óptimos amigos, do melhor que pode haver. Paul é aspirante a poeta, vai escrevendo uns texto nos momentos mais propícios à sua arte; Günther é apenas seu grande amigo, homossexual, assumido, irmão de Hilde Scheller. Günther e Hilde decidem passar um fim de semana numa casa de campo, fora da cidade de Berlim, e optam por convidar alguns amigos para uma festa nessa mesma casa. Ao conhecer Hilde, Paul perde-se de amores de um instante para o outro. Mostra-lhe a sua poesia que a deixam encantada e sedenta por mais. Consegue captar a atenção dela, assim como ela captou a atenção dele num abrir e fechar de olhos, e Paul vê aqui o seu amor ser correspondido pela mulher que acaba de conhecer e de amar.
Decidem-se então pela festa, agendada para a a segunda noite que lá passam. Hilde diz que precisa de ir à cidade (Berlim) fazer uns recados ou coisa que o valha e Günther pede-lhe que convide Hans (Thure Lindhardt), o 4º elemento do grupo, fulcral para o desenvolver da acção. Com esta ida de Hilde à cidade ficamos a perceber duas coisas. Por um lado, Hilde é uma leviana que não se contenta só com um namorado. Ela diz isso mesmo em confidência às suas amigas, que nunca, em caso algum, seria capaz de estar presa a um só homem. Por outro lado, vamos também ficar a perceber que Hans, de baixa classe social e trabalhador na cozinha de um restaurante de Berlim, é bisexual, ex-companheiro de Günther e actual namorado da sua irmã, Hilde. Ora, sendo assim, a quádrupla amorosa tem muito a prometer: Paul ama Hilde, irmã de Günther, seu melhor amigo; Günther é ex-namorado de Hans, ainda o ama e espera continuar com ele, não querendo fazer a desfeita à irmã, Hilde, que ama Hans e ama Paul, porque não quer só um homem... É suficiente? Para nós, do século XXI, isto tem muito que se lhe diga. Imaginemos o que isto não seria em 1927... Mas, e porque o enredo ainda não acabou, vimos a descobrir ainda que Günther é apoiante fervoroso do relacionamento de Paul, seu melhor amigo, com a sua própria irmã, para que o caminho em direcção a Hans fique livre - já por isso mesmo é que insiste que Hans venha à festa. Inevitávelmente, Paul não cede ao relacionamento de Hilde com Hans e desata em actos de violência contra o rival Hans. Paralelamente, Günther também desata numa série de comportamentos de amor-ódio, ou antes, começam com ódio e acabam em amor, para com Hans, porque o ama e sente ciúmes da sua própria irmã Hilde.
E, inacreditávelmente, isto é uma história verídica... de 1927!

O que conseguimos perceber com este filme não é tão simples como se possa pensar. O amor é uma arma muito poderosa. Tão poderosa que até pode matar, veja-se este caso por si só. É extraordinário ver como estas pessoas amam tão fervorosamente, levando-as a cometer actos tão impuros e repulsivos que nada têm a ver com amor. Mas então, não serão esses actos de ódio o resultado do amor? Serão sim. E por isso mesmo é difícil encontrar uma explicação razoável para toda esta história que nos embrenha e envolve tão absurdamente.
O filme não é perfeito e acaba mesmo por ter um ou outro defeito técnico, mas que não comprometem, de modo algum, a obra. No entanto, é de louvar que, 80 anos depois, alguém se lembre de trazer e de recriar esta história que há muito devia ter sido contada e que não podia ser mais actual do que aquilo que é. Afinal, no meio de tantas lamechices que há hoje em dia, temos aqui bem presente uma tragédia, um filme de sofrimento, que se baseia no amor, como um sentimento maior que a vida, pelo qual vale a pena lutar até à morte.



8 comentários:

João Ruivo disse...

Vejo-me obrigado a discordar pelo menos num ponto -mais não posso porque não vi o filme e, confesso ainda não li isso tudo.

(...) este "Amor em Pensamentos" (seria algo do género se tivessemos cá o filme) (...)"

O mais certo é chamar-se algo do género "A força do amor" com um outro qualquer subtítulo desnecessário e uma catch-phrase muito foleira.

Unknown disse...

"A Força do Amor" não dava porque já existe um... é o "I am Sam - A Força do Amor", com o Sean Penn.

Quanto ao subtítulo desnecessário e à catch-phrase muito foleira, tenho de concordar!

É o que se arranja.

Bel disse...

Aqui no brasil o filme recebeu o nome de "pra que serve o amor só em pensamentos?"

Anónimo disse...

Acabei agora mesmo de ver esse filme, fiquei pasmado pelo facto de a história se ter passado nos anos 20. E na intensidade de algumas cenas, contudo diria que o final não é trágico até o considero romântico...

Unknown disse...

Digamos que é uma história Camiliana, com um final Skakespeareano...

ESTENIO DE OLIVEIRA LEITAO disse...

Assisti e adorei o filme, simplesmente marcou-me. É uma bela história, digamos porém, que, entristecedora, uma vez que o final é simplesmente trágico, mas quase previsível desde o começo do filme, uma vez que, Hilde, com "aquele seu insaciável fogo", dava em cima de todo e qualquer um, e não respeitava nem mesmo o namorado de seu irmão.

ESTENIO DE OLIVEIRA LEITAO disse...

Assisti e adorei o filme, porém, fiquei muito triste com o final, onde Günther matou seu namorado e em seguida, suicidou-se.
Na minha opinião, o final já era previsível desde o começo do filme (afinal, o mesmo começa com uma narrativa de acontecimentos), mas não apenas por isso, mas também pelo fato de Hilde não respeitar os sentimentos de alguns personagens, como, por exemplo, de seu irmão, ao dar em cima de seu namorado, como se quisesse que este soubesse que ela fazia isso.

ESTENIO DE OLIVEIRA LEITAO disse...

Assisti e adorei o filme, porém, fiquei muito triste com o final, onde Günther matou seu namorado e em seguida, suicidou-se.
Na minha opinião, o final já era previsível desde o começo do filme (afinal, o mesmo começa com uma narrativa de acontecimentos), mas não apenas por isso, mas também pelo fato de Hilde não respeitar os sentimentos de alguns personagens, como, por exemplo, de seu irmão, ao dar em cima de seu namorado, como se quisesse que este soubesse que ela fazia isso.