domingo, 18 de maio de 2008

CINEMA: 21 - A Última Cartada

A partir do livro de Ben Mezrich, "Bringing Down the House: The Inside Story of Six M.I.T. Students Who Took Vegas for Millions", o realizador Robert Luketic traz-nos 21 (traduzido em Português para "A Última Cartada"), uma adaptação que tem alguma coisa a ser dita, até porque o próprio livro parte de uma história verídica. Não creio que seja uma adaptação coerente em relação ao que tenha realmente acontecido, mas mesmo assim acaba por ser bastante satisfatório.
Começamos com um excelente aluno, acabado de entrar em Harvard no curso de Medicina. Para conseguir pagar o curso, este aluno com um currículo já invejável concorre a uma bolsa de estudo de 300.000 $ (sim, as propinas são mesmo caras!). Acontece que, como ele, existem muitos outros alunos brilhantes e que também concorrem à mesma bolsa. As hipóteses parecem poucas, a não ser que consiga "deslumbrar" o professor que o vai avaliar e decidir se leva ou não a bolsa de estudo.
Entretanto, nas aulas do professor Micky Rosa, este aluno Ben Campbell sobressai-se com algumas teorias estatísticas o que faz surpreender minimamente o professor.
Nisto, o jovem estudante é repreendido pelo professor (e mais tarde pela miúda dos seus sonhos) a entrar numa espécie de clube privado onde só entram grandes crânios. Ben aceita, obviamente, e, nesse clube, é treinado a contar cartas. Uma técnica infalível de se ganhar ao popular jogo da sorte BlackJack (conhecido por alguns como 21) em que, numa fase inicial, cada número é associado a uma palavra. Depois, à medida que as cartas vão saindo soma-se ou subtrai-se 1 (conforme a carta) a ver quanto está a soma (se fica igual, se aumenta ou se diminui), tirando daí o proveito de se apostar muito ou pouco para se ganhar ou perder (muito e pouco, respectivamente). Parece confuso? Não parece, é mesmo confuso. O objectivo deste grupo é ir para Las Vegas uns quantos fins-de-semana, liderados pelo professor Rosa, ganhar uns trocos e voltar para Boston. Tudo na legalidade uma vez que contar cartas não é fazer batota (em alguns casinos).
A técnica é, de facto, infalível. Dentro do casino o grupo não se conhece entre si. Cada um está estratégicamente a jogar numa mesa de BlackJack. Quando o jogo está a favor fazem um sinal a Ben para este se sentar na mesa para jogar/contar cartas. Agora, aquilo que podia e devia ser um sinal altamente discreto e indecifrável, é na realidade um gesto algo espanpanante. Vá se lá saber como é que um grupo de jovens tão inteligentes fazem um sinal de chamada que dá nas vistas a 10Km de distância... Mas estando já na mesa, o jogo e os sinais são outros. Ao lado está um membro do grupo (que ali não se conhecem) e logo faz um comentário com uma das palavras estudadas. A idéia é dizer a Ben a soma que tem na sua mão e a partir daí o jogo está na mãos dele, ou melhor, na cabeça.
E assim o grupo se vai safando e arrecadando quantias avultadas de dinheiro que Ben vai acumulando no tecto do quarto. Safam-se às câmaras e aos olhos de Cole Williams (um Laurence Fishburne deveras violento e bastante adequado ao seu porte), que vê a sua carreira a ficar ameaçada por um novo software de reconhecimento facial que está ser implantado em todos os casinos. Cole tem de fazer alguma coisa para garantir uma boa reforma, e faz de tudo para apanhar nem que seja um mísero contador de cartas.
É entao que os problemas começam. Quando tudo parecia estar bem (até Ben conseguira o tão desejado amor de Jill Taylor) e o dinheiro ia surgindo e surgindo, criam-se conflitos, geram-se desavenças e já ninguém se pode ver à frente. O professor sai do grupo, mas Ben decide liderar o mesmo por si só e logo acabam por ser apanhados e metem-se em maus lençóis. Os problemas começam a surgir com mais frequência, entre relações familiares enganosas e amizades que se começam a perder. Ben comete o pecado mortal, joga pela emoção e leva o grupo à ruina.
O filme é bastante agradável, mas não é aquilo que se espera. É, de facto, uma boa aventura de um grupo de 6 jovens que merece ser contada. É uma lição de vida. Queriam um motivo para ficarem deslumbrados, pois aqui está um motivo. Não é qualquer um que arrisca tudo (e perde tudo praticamente). Agora, podiam ter feito isto de uma maneira muito diferente, algo mais original, desprenderem-se do que já foi feito, removerem o repetitivo. Disso já nós estamos fartos. É uma pena que se tenham limitado muito ao que se costuma fazer em Hollywood, e o filme peca por isso, apesar de lá no fundo, ser agradável de se ver e muito agradável para quem está mais de fora do assunto.
Dou particular interesse às diversas referencias ao número 21 que encontramos ao longo do filme, tornando-o mais interessante. Desde o 21º aniversário de Ben Campbell acabados de fazer ao pequeno jogo que Mickey Rosa faz na sala de aula com Ben Campbell onde este escolhe a "porta" número 1 de pois a número 2... enfim algumas referências para os menos distraídos (se bem que eu costumo ser um nadinha distraído nestas coisas).
A realização é moderada, e os actores são bons. Vejo um Kevin Spacey um pouco estagnado mas nada mal, um Laurence Fishburne surpreendente e uns jovens (incluindo Kate Bosworth) no bom caminho. Os cenários não trazem nada de novo e alteram entre o campus do MIT e a The Strip em Las Vegas, passando por uns quartos de hotel e salas de casinos cheias de luxo e brilhantismo. A fotografia também é mais uma que não traz nada de novo, muito polida e com boa colaração. Tem qualidade, é certo. Mas já é tempo de se reinventar. Só com isso é que conseguimos captar mais atenções. Este é um filme vencedor, sem dúvida, e é bem preciso que hajam filmes assim para a arte sobreviver. Mas sairía mais vencedor se não desaproveitassem tanto a história que tinham em mãos. Nesse caso, até poderiam gritar de alegria "winner, winner... chicken dinner".

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