domingo, 25 de julho de 2010

EM CARTAZ:


The Ghost Writer / O Escritor Fantasma
de Roman Polanski


Curiosa, esta reaparição de Roman Polanski após toda a polémica que circundou o autor nos últimos meses: enquanto trabalhava numa narrativa envolta nos bastidores, entenda-se fantasmas (também), da política britânica, o próprio autor deparava-se com as seus próprios fantasmas...
Porque a questão aí reside, se o público será capaz dessa distinção, entre a realidade e a ficção, ou se o trabalho, excepcional, de Polanski acabará denegrido, injustamente. Parece-me que não, mas também me parece que ainda é cedo para o sabermos.
O Escritor Fantasma é, em boa verdade, um dos melhores trabalhos do autor - e confesso-me, também, como grande admirador dos seus filmes. Este, em particular, prima pela tendência quase realista, não fosse a ficção, ao fundir-se maravilhosamente com o que de mais físico e céptico há na realidade. Aliado a um exímio trabalho de cinematografia (de Pawel Edelman, já frequente nos últimos filmes de Polanski), que de muito contribui para essa visão térrea da realidade, O Escritor Fantasma exemplifica a façanha política, a mentira e a manipulação que assombra toda e qualquer sociedade. Esta é uma realidade, e não havia forma mais verdadeira de a contar a não ser pelas mãos de Roman Polanski.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

INCEPTION, entre o sonho e a realidade


O anúncio magistral que reflecte a incidência (e insistência) dos grandes estúdios em publicitarem os seus filmes. Inception - Origem, o novo filme de Christopher Nolan, que estreia já na próxima semana em Portugal, deixa cada vez mais água na boca. Independentemente dos tempos de crise de que se fala, a publicidade é sempre um investimento a ter em conta - os custos chegam, por vezes, a atingir um valor semelhante ao do próprio filme. Este não fugiu à regra, espalhado por vários edifícios nova iorquinos, onde os sonhos tornam-se mesmo realidade.
E porque não trazer um nicho dessa cultura publicitária (e publicista, essencialmente) para a cinematografia portuguesa?


domingo, 11 de julho de 2010

THE SOPRANOS: Made In America


A magnificiência técnica a favor da arte?

Este texto cinge-se a uma interpretação pessoal e contém spoilers.

O último episódio de The Sopranos é o perfeito exemplo de como a técnica, quando exímia e pensada, pode traduzir-se na mais bela forma artística de contar histórias. Na verdade, só um autor capaz do pleno controlo da sua obra, aliado a um bom trabalho de montagem, conseguirá um feito com esta complexidade e dimensão, o que é quase raro em televisão, embora não totalmente em séries produzidas pela HBO.
O episódio foi largamente criticado em todo o mundo, aquando da sua exibição, tanto pelas melhores, como pelas piores razões, particularmente pela última cena que, apesar de explícita, não tem um entendimento tão fácil e directo como seria esperado, acabando mesmo por ser muito incompreendida (e mal recebida) pelo público em geral. Nela, e para quem está recordado, somos presenteados com um conjunto de planos, usualmente designados por POV (de Point of View) que mostram não mais do que o espaço ou a situação através do olhar (visão) de um determinado personagem. O conceito é conseguido ao intercalar o plano POV entre dois planos (usualmente apertados, o close up) que indicam a reacção do personagem, antes e depois, perante o que vê.


A cena constrói-se nessa perspectiva, essencialmente segundo o que Tony vê e (pres)sente. Introduz-nos ao local - um bar de esquina -, assimilando-o pormenorizadamente; tomamos conhecimento do lugar onde Tony se senta - mesmo em frente à porta de entrada e lateralmente posicionado em relação à casa de banho -, onde o conceito de espaço e de tempo torna-se fundamental, imprescindível até. Só estando atento à forma como o espaço nos é oferecido é que compreendemos as restantes sucessões de planos POV: de facto, não haveria lugar onde Tony ficasse mais desprotegido do que aquele, adjacente aos lavabos, onde é dada a devida ênfase assim que um certo indivíduo de ar suspeito lá entra; além disso, ali mesmo em frente à entrada, estrategicamente posicionado e para receber a família prestes a chegar. O tilintar do sino da porta anuncia a chegada, dando início a cada um dos planos POV. Repare-se no erguer do olhar, seguido do plano com o exacto ponto de vista do personagem, terminando com um novo plano apertado mostrando a sua reacção. Os planos POV assim se vão repetindo, restando apenas Meadow, a filha, que, embora atrasada, marca o momento essencial da cena: vê-mo-la a chegar, Tony ergue o olhar no momento em que disso se apercebe, mas no exacto e preciso segundo em que deveria ser intercalado o plano POV com o ponto de visão de Tony Soprano, surge-nos...

Não vemos.
Não ouvimos.
Mas sentimos, tal como Tony, porque, afinal de contas, este é o seu ponto de vista.
A total escuridão... da morte.

Eis a cena:

EM CARTAZ:


Shirin
de Abbas Kiarostami


Por fim estreou em Portugal um dos últimos filmes do iraniano Abbas Kiarostami. Um excelente exemplo da versatilidade cinematográfica, aqui transformada numa antítese: a simplicidade leva-nos a uma das mais extraordinárias complexidades dramáticas conseguidas em cinema. São 114 rostos, de actrizes iranianas e uma europeia (Juliette Binoche), filmados em plano apertado durante 90 minutos. Assistem a uma encenação - pensamos que sim, porque nada disso é mostrado - de Shirin e Khosrow, uma das mais belas e lendárias histórias de amor da Pérsia.
114 reacções femininas, de todas as gerações, e nada mais que isso, cada uma revendo a sua própria história de amor em Shirin (talvez por isso o filme tenha tomado como título apenas o nome da personagem feminina). E repare-se que não se trata de uma exploração dos sentimentos femininos, mas antes uma valorização dos gestos, do olhar enigmático, dos lábios contorcidos, traduzidos numa certa falsidade ou veracidade emotiva - antítese, novamente. E, por curiosidade ou não, vemo-nos reflectidos naquelas reacções, partilhamos das suas expressões, porque o sentimento é recíproco.
Recomenda-se vivamente!

terça-feira, 6 de julho de 2010

Uma resposta...


... e uma reflexão linguística, religiosa e cultural!





Nota máxima!