sexta-feira, 11 de abril de 2008

CINEMA: August Rush

Revigorante. Excitante. Mágico.
São 3 adjectivos que não podemos deixar de associar a August Rush. Em poucas palavras, uma ligação harmoniosa e equilibrada da musica e do cinema. Uma paixão mutua que aqui se une em momentos de pura harmonia e beleza. Uma viagem sensorial pelos olhos e ouvidos de um miúdo de 11 anos. Um prodígio no mundo da musica, vindo de uma relação não desejada a olhos alheios. A musica nasce em si. Cresce. E, como que por magia, tudo funciona. A vida como uma composição musical. A cidade que o acarinha surge como uma melodia forte e que tão bem a caracteriza. Mas Evan Taylor (ou August Rush) é o único que a consegue ouvir. Assim como é o único que consegue ouvir a mãe e o pai algures perdidos no mundo.
Onze anos se passaram desde que Lyla (Keri Russel) e Louis (Jonathan Rhys Meyers) se conheceram pela primeira vez. Desse contacto surgiu Evan Taylor. Lyla tem uma carreira promissora como violoncelista e Louis como guitarrista e vocalista numa banda pop-rock. A sua relação é indesejada pelo pai de Lyla que vê a sua carreira ameaçada com o filho que Lyla está prestes a ter. Não o permite e apodera-se de uma oportunidade acidental para comunicar à filha da morte do bébé. Forja tudo, ilude todos e Evan Taylor vai parar a um orfanato de Nova Iorque.
Mas Evan (Freddie Highmore), maior do que a vida, quer sair daquele local para encontrar a mãe que nunca conheceu e vê-se envolto num mundo novo. Uma descoberta sensorial que nos deixa abalados. Tantos sons para descobrir. Tanta harmonia que existe na vida e que não somos capazes de a perceber. Uma união perfeita, equilibrada e, acima de tudo, mágica. A simplicidade da associação levam-nos a despertar sensações mortas e que desconhecíamos. Fazem-nos rejuvenescer. Abrem-nos os olhos. Mostram-nos um Novo Mundo que só é possível conhecer em contos de fadas. Só os que não querem é que não aproveitam nem tiram parido do que o filme nos oferece. E Evan Taylor tira proveito da sua capacidade auditiva e deixa-se evadir pelo espírito que o torna num génio.
Como criança perdida num mundo por descobrir, Evan encontra Wizard (Robin Williams) que o vai acolher numa antiga e abandonada sala de espectáculos. Aí encontra outros miúdos como ele. Que amam a musica. Criam. Mas Evan, mais do que aprender ou criar musica quer ser feliz e ser amado. Quer usar a musica para chegar a esse estado de espírito que só ele conhece.
Aprende com facilidade e vai para o centro da cidade tocar para ganhar dinheiro a mando do seu tutor Wizard. Torna-se assim um dos miúdos fugidos mais procurados da cidade, numa investigação levada a cabo por Richard Jeffries (Terrence Howard).
A sua capacidade jamais passa despercebida e assim Evan Taylor torna-se August Rush, o fantástico August Rush. Mas Wizard parece tirar mais proveito disso do que o próprio August. A curiosidade e a sede por conhecer mais este novo mundo levam August a um culminar fascinante e arrepiantemente emotivo. Passa por uma igreja, onde ensaia um coro Gospel. Raise It Up é o tema ensaiado (nomeada para o Óscar) onde actua a jovem e brilhante Jamia Simone Nash no papel de Hope. Evan aprende novos instrumentos, deixa-se levar e ser evadido pelos pequenos sons e pormenores que escapam ao ouvido leigo. Assim funciona o meio de August.
Ao mesmo tempo, Lyla descobre que o seu filho está vivo e vai à sua procura a todo custo. Também Louis não esqueceu Lyla depois de tanto tempo passado e regressa à cidade para encontrar a mulher que ama.
August Rush é um belo personagem. Há poucos como ele. É intrigante a sua maneira de criar musica. É algo divino. Nasce dentro de si. Mais mágico do que real. Os sons emanam de uma personificação. Um alter ego que agora encontra um caminho para a vida.
A sua entrada para a melhor escola de musica de Nova Iorque é apenas um inicio. Logo descobrem o prodígio que é este ser. August Rush será grande. Compõem a primeira Rapsódia em poucos dias e a estreia não tarda a acontecer. Um espectáculo que juntará no mesmo palco o jovem compositor August Rush e a violoncelista, ex-aluna da mesma escola, Lyla Novacek.
Um culminar perfeito, harmonioso, musical, belo, divino e... mágico. O encontro final num terminar feliz, como não poderia deixar de ser. August Rush é uma Ode à vida. Ao que é belo. Ao que nos faz sonhar, acreditar e chorar por um mundo que queríamos ter. E quem sabe não o poderemos ter com um pouco de esforço.
Kirsten Sheridan realiza maravilhosamente este filme depois de algumas experiências em curtas metragens e documentários. Não é perfeita mas é estável e é tudo aquilo e um pouco mais daquilo que se pretendia. Apenas tinha conhecimento de Kirsten Sheridan no filme In America (Na America) escrito pela mesma e realizado por Jim Sheridan, seu pai. A par de um belo grupo de actores, tem particular interesse a musica de Hans Zimmer, assim como a edição de imagem e edição sonora pela coordenação certa dos sons, musicas e imagens. Que seria este filme sem isso? Também a fotografia é de enorme relevância por conferir o brilho especial que lá faltava. Não se trata da tonalidade de cores e da luz que fazem deste filme aquilo que é, mas antes pelo toque de magia como há sempre nos contos de fadas. Porque para August a musica não é mais do que pura imaginação e liberdade total das nossas sensações. A musica está toda à nossa volta. Nós só temos de a escutar.

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