terça-feira, 1 de julho de 2008

CINEMA: Bin-Jip (Ferro-3)

Bin-Jip, traduzido em Inglês para 3-Iron, ou em Português para Ferro-3, é uma nova demostração das capacidades do cinema asiático, que cada vez mais se expõe e agrada ao público em geral, apesar da grande carga simbólica que o sustenta.
Um filme do ano 2004, do realizador Ki-duk Kim (Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera) que ultrapassa as espectativas de quem esteja à espera de uma bela e simples história de amor. É muito mais do que isso. É uma alegoria ao que há de bom na vida. Uma Ode ao que é belo, ao que se suaviza e simplifica, como um voo de Primavera. É a materialização do equilibrio que há na vida, personalizado na aproximação de dois seres que se apaixonam. É vermos o amor surgir e a construir-se de dia para dia, sob constantes adversidades, atacado por todos os lados, mas a continuar vivo, sempre presente na ausência do amado.
É este cinema que nos alegra a alma. Que nos completa e nos surpreende. É uma força maior que nos prende a duas almas apaixonadas, vivendo o seu amor incondicional, as aventuras e desventuras, as tristezas e as amarguras...

Ki-duk Kim realiza um excelente exercício simbólico, onde o amor entre duas pessoas surge como um equilibrio perfeito da humanidade, num estado de espírito de união, como um só. Uma narrativa visual perfeita, que nos mostra a ligação intrínseca entre Sun-hwa e Tae-suk sem diálogos entre os mesmos. É a leveza dos gestos, a simpatia das emoções, a doçura dos olhares, o arrepio do toque dos seus corpos que nos fazem sentir esse amor, sem limites, de incomparável elegância e subtileza, onde deuses não ousam intrometer-se. Duas almas que se compensam e que tudo farão para assim continuarem.

Ferro-3 conta a história de Sun-hwa, um jovem sem lugar para viver e que engendra um plano que lhe dá um lugar decente onde dormir e viver, diferente de dia para dia. Sun-hwa distribui panfletos publicitários, logo pela mãnha, colando-os nas fechaduras das portas de casas habitadas. Ao final do dia, Sun-hwa regressa ao local e verifica quem ainda tem os panfletos colados na fechadura. A presença dos mesmos denuncia a ausência dos donos da respectiva casa, pelo que Sun-hwa pode entrar livremente nessa casa sem ninguém dar conta disso. Do bom coração que tem, Sun-hwa procura realizar os afazeres da casa, roupa suja para a lavar, relogios para concertar, aparelhagens para arranjar... Como forma de pagamento pelo serviço prestado, Sun-hwa "pede" apenas comida e estadia para a noite. No dia seguinte retoma o seu caminho, distribuindo novos panfletes para conseguir novo local para passar a noite seguinte.

É neste dia-a-dia que Sun-hwa se depara com inúmeros problemas. Num desses dias, Sun-hwa entra em casa de Tae-suk, aparentemente deserta e desocupada momentâneamente. O silêncio e o sofrimento de Tae-suk são demasiadamente interiorizados para serem percebidos à priori por Sun-hwa. Como sempre, a roupa aparece lavada, a balança é equilibrada, serve-se de um banho, de uma refeição e de uma cama até ser surpreendido pela presença de alguém. Tae-suk surge-lhe amargurada, lesionada, destruída de amor e compaixão. Sofrida de uma violência sem culpa, por um marido de mau carácter e desconceituado do equilibrio e elegância da vida. Tae-suk liberta a mulher desse sofrimento e leva-a consigo numa experiencia de vida que os vão deixar juntos para sempre.
Tae-suk e Sun-hwa começam a vida juntos, de panfleto em panfleto, de casa em casa. O terrível anuncia-se, uma morte acidental entrava o caminho dos personagens.
É no decorrer de uma separação forçada que Sun-hwa e Tae-suk procuram, de qualquer forma, estar juntos. Entre a culpa e a inocência, somos transportados para um meio sentimental, onde o amor é a resposta ao sentido da vida. Onde a ausência deixa uma lacuna na alma que não pode ser compensada. Onde a arte da invisibilidade é a solução de uma aproximação eminente, que se estabelece num equilibrio perfeito entre dois seres, silenciados de corpo e alma.

Uma técnica inigualável na concepção deste filme, que passa muito pelo que de bom se tem feito na China, Coreia e Japão. Um domínio absoluto do silêncio, desprendendo-se do que é supérfluo e enfatizando o elegante, o simples, o belo e o subtil.
Uma óptima direcção musical, um texto soberbo e uma realização merecida. Uma obra que deve ser vista várias vezes, que passa para o espectador o simbolismo de uma relação.
Muito se diria acerca de Bin-jip, mas muito do que mostra Bin-Jip deve ser entendido por cada um e à maneira de cada um.

3 comentários:

João Ruivo disse...

"Viva o cinema asiático" é o que eu tenho a dizer.

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

Olá Helder, ...e pois, a mesma paixão. Já conhecia o filme - curiosamente, foi através da Natasha Atlas (aquela música que une os dois amantes) que conheci Kim Ki-duk. Recentemente, no mestrado, voltei a este filme... por causa do «silêncio como uma linguagem».

Gostei que tivesses deixado um sinal teu--- e o teu blog vai para os meus links.

Beijo enorme, ainda cheio de sorrisos (a nossa "partida" na Casa do Castelo fica para a posteridade :)))

Unknown disse...

O "Divas & Contrabaixos" vai também para os meus links...


Sim, com muitos sorrisos... a "partida" foi memorável! histórica até...!

venha a próxima!


beijos do
Helder