JPC – Guardo muito boas memórias desse tempo que coincide com o meu regresso a Portugal após uma década a viver na Suécia onde me licenciei na Universidade de Estocolmo em Cinematografia. Trabalhar com o Lauro António foi um excelente arranque de carreira.
Já pensava nos meus filmes, mas queria ver e observar os outros a trabalhar daí o meu longo assistanato de oito anos.
HM – Fernando Lopes: um realizador por quem eu tenho muita estima e também um realizador com quem o Jorge já teve oportunidade de trabalhar. E o mesmo digo para outros realizadores como José Fonseca e Costa e António-Pedro Vasconcelos, com quem o Jorge já trabalhou. Foi fácil adaptar-se ao processo de criação de cada um dos realizadores, não só estes que referi, mas de todos com quem trabalhou? Encontrou muitas dificuldades e atritos (que queira partilhar) entre si e algum realizador em particular?
JPC – Apenas colaborei com o Fernando Lopes na preparação do Fio do Horizonte e cultivei uma amizade que ainda hoje prezo. Quanto ao meu trabalho como António Pedro e o José Fonseca foram de maneira diferente grandes momentos de aprendizagem e camaradagem. Reincidi, pois fiz mais que um filme com cada um deles, sempre com muito entusiasmo e acreditando nos projectos.
HM - Jorge, agora uma pergunta que não posso deixar de lhe fazer. Em 2008, o seu filme "O Mistério da Estrada de Sintra" esteve a concurso no Festival de Cinema "Famafest", curiosamente dirigido pelo Lauro António. Nesse ano, o Presidente do Júri Internacional era precisamente o Fernando Lopes e o Presidente do Júri da Juventude era eu mesmo. Contudo, se bem me lembro, ao seu filme apenas foi atribuído o Prémio Ficção, pelo Júri da Juventude. Acha que o Fernando Lopes o prefere ver como assistente?
JPC – Esse prémio é uma novidade para mim. Quanto ao Fernando, pensou que achou, com todo o direito, haver filmes que mereciam mais o prémio que o meu. Já ganhei vários prémios em festivais, como Belfort, Moscovo e Arare, por exemplo, e nunca me foram atribuídos pelo lado da amizade. Raramente sei em que festivais os meus filmes andam e quem são os membros do júri. A verdade é que mandar filmes a festivais é mais uma iniciativa, pelo menos no meu caso, dos produtores. Em Arare o Mistério ganhou o prémio do público, melhor filme e argumento e só soube quase 3 meses depois quando me foram entregues as estatuetas.
HM – Com certeza e, na verdade, eu tive oportunidade de falar algumas vezes com o Fernando e, devo dizer-lhe, os elogios sempre foram muitos!
Mas, voltando ao seu trabalho, também não posso deixar de fazer uma referência ao seu trabalho em produções estrangeiras. Que grandes diferenças notou entre o cinema português e o internacional, em termos de produção? Acha que estamos bem posicionados, ou ainda temos muito que caminhar?
JPC – Trabalhei em algumas
produções estrangeiras como assistente de realização como por exemplo o “Chain Reaction” do Richard Bennet com o Martin Sheen e no Barco do Amor, para mencionar algumas americanas por exemplo e lembro-me de grandes equipas impessoais e bons salários.
HM – Da mesma forma, sabendo que o Jorge adquiriu grande parte da sua formação em Cinema em Países como a Suécia e a Alemanha - e pergunto isto tendo, também, em conta o seu trabalho como professor na Universidade Lusófona - acha que, nesta matéria, Portugal está bem servido de escolas e professores capazes de instruir as novas gerações na arte cinematográfica?
JPC – O ensino do cinema em Portugal está a evoluir, como seria de esperar. No entanto não podemos esquecer que muito mudou, particularmente com o desenvolvimento do dispositivo tecnológico e com a introdução e desenvolvimento das componentes multimédia e interactividade. Ainda há uma semana filmei uma cena para um programa de ficção televisiva com um telemóvel operado por mim. Isto seria inconcebível quando estudei cinema. A escolas de cinema terão de observar a importância destes aspectos evolutivos com tranquilidade sem descurar, obviamente, os aspectos clássicos como por exemplo a filosofia subjacente à narrativa que herdamos da antiguidade.
HM – Jorge, depois de tantos anos a trabalhar em cinema e televisão, que grandes diferenças encontra entre os dois, em termos de processo criativo? Tem preferência por algum?
JPC – Cada projecto é um projecto. Não combino nem separo o cinema e a televisão. Em cada um há particularidades e idiossincrasias que os tornam atractivos e diferentes. Gosto muito, e sobretudo o que me entusiasma é o processo criativo que a ficção proporciona e só depois penso se é cinema ou televisão.
HM – Para finalizar, uma pergunta que também não posso deixar de fazer. Como realizador português, como vê o estado actual, não só do cinema português, mas do cinema, na sua generalidade, em Portugal?
JPC – Isso seria uma discussão e o esclarecimento de uma visão que nos levaria a nunca mais acabar com as explicações, teses e especulações. Prefiro responder, com toda a sinceridade, que o estado do cinema português actual, para mim, tem como prioridade os meus alunos e a possibilidade de virem a ser criativos de sucesso, realizados nas suas aspirações mas sobretudo conscientes do seu conhecimento do estado e do conceito de arte.
HM – Jorge Paixão da Costa, agradeço imenso a sua atenção e disponibilidade. Desejo-lhe os maiores sucessos, se é que já não os tem. Obrigado.