E para que o ano acabe em grande, ou para que o 2010 comece ainda melhor, deixo-vos, muito provavelmente, a música que mais me marcou este ano.
Tenham um excelente 2010!




Não vai há muito tempo quando torci o nariz ao saber que Quentin Tarantino preparava um novo filme, dizia-se sobre a II Guerra Mundial, apenas porque não é um tema que facilmente associemos à estética do realizador. Mas nunca melhor do que esperar para ver o resultado final - julgar as coisas pela sua aparência, um livro pela capa ou, neste caso, um filme pelo cartaz nunca dá bom resultado. A prova disso chegou às nossas salas, um grupo de Sacanas Sem Lei cujo único objectivo é limpar o mundo de tudo quanto for nazi.
E assim começamos, no ano de 1941, numa França ocupada pelas tropas nazis. Na pequena e desértica aldeia um produtor de leite é ameaçado pelo Coronel Hans Landa (interpretado por Christoph Waltz - vencedor em Cannes do Prémio de Melhor Actor neste papel) para denunciar o paradeiro de uma famíla Judia desaparecida daquele local. Mas o Coronel sabe-a bem, apelidado entre os seus de "Caçador de Judeus", um verdadeiro sacana nazi, dir-se-à, não há um que lhe escape, excepto a jovem e bela Shosanna Dreyfus (igualmente bem interpretado por Mélanie Laurent). Daqui somos levados para 1944, onde nos são introduzidos os verdadeiros Sacanas Sem Lei, liderados pelo Tenente Aldo Raine (Brad Pitt num dos melhores papéis que tem feito ultimamente), um grupo de Americanos sedentos por sangue nazi, espalham o medo por todo o território, recolhendo selvaticamente os escalpes dos soldados e oficiais alemães - não se fazem prisioneiros!

Como se não bastasse, o remake terá a acção transposta para a actualidade, implicando que Dakota Fanning será a neta da Dorothy, originalmente interpretada por Judy Garland em 1939.
Um deles aposta nas novidades da reconstrução do velho Cinema Olympia para o novo Teatro Olympia, anexado ao Teatro Politeama, uma iniciativa de Filipe La Féria. Além de Teatro, a reconstrução do Olympia também traz em vista a Escola de Artes e Espectáculo que abrirá no andar superior do edifício. As novidades já são muitas e todas para acompanhar no blogue http://olimpiateatro.blogspot.com
A marcar presença na blogosfera, chega-nos Totó, o cãozinho da Dorothy, estrela do próximo espectáculo de Filipe La Féria a estrear no Teatro Politeama, "O Feiticeiro de Oz". Os ensaios já começaram e o Totó já está online para nos contar todas as novidades! A não perder no blogue http://ofeiticeirodeoz.blogspot.com
Ao que me tem vindo a parecer, Gray tem um particular cuidado com a música que se ouve ao longo do filme, não especificamente a Banda Sonora, mas principalmente aquela que interage directamente com a cena e com os actores. Quentin Tarantino também o faz, mas de uma forma ainda melhor que James Gray. Por um lado, Tarantino dirige uma cena que se destina a uma música; por outro lado, Gray escolhe uma música que se adequa - pelos instrumentos e pela voz - à cena que dirigiu. São formas de criação opostas mas ambas funcionam à sua maneira, se bem que eu me identifico mais com a cena a ser dirigida para uma música. Um excelente exemplo disso acontece precisamente em "Dois Amantes", onde James Gray, segundo li numa dessas entrevistas, precisava de uma música para uma cena num restaurante à beira-mar. Disse que um dia estava em Nova Iorque, num restaurante, e de repente ouve, em música ambiente, uma voz e umas guitarras que lhe chamam a atenção. Cantava a Amália Rodrigues o fado "Estranha Forma de Vida". Um feliz acaso que levou de imediato à escolha desse grande Fado para a cena no restaurante à beira-mar. O que diria desta cena - e esta é provavelmente a única crítica que faço - é que só seria melhor se James Gray conseguisse perceber o que é o Fado (o próprio disse que até então desconhecia este género musical), se percebesse o significado da palavra saudade e se soubesse/percebesse a nossa identidade como lusitanos. Aí sim, teríamos uma deslumbrante cena ao som de Amália. Acontece que, muito simplesmente, o fado quase passa despercebido aos ouvidos de muitos portugueses, sem sombra de dúvida. Não é mais do que uma mera música ambiente, bem lá ao fundo, espreitando de quando em vez uma reconfortante voz que grita "que estranha forma de vida"... A cena não tem o ritmo exigido pelo Fado, não tem a densidade da alma lusitana, mas no entanto acaba por funcionar razoavelmente bem em termos musicais. Temo que o desaproveitamento de um Fado com tanto sentido fique perdido pela cena à beira-mar e, sendo assim, não deixa de ser mais do que um mero preciosismo de enquadramento musical - mas bem sei que essa não era a intenção do realizador. O que mais haverá a referenciar, compete a cada um.
"Dois Amantes" retrata uma paixão e as muitas acrobacias que a envolvem, mas desde cedo que põe de parte a ideia de comédia romântica. É um drama e nada mais que isso. Parte de uma acção excessivamente real e com a qual muitos se identificam: desesperado da vida, sem perspectivas futuras e depois de um casamento muito dolorosamente acabado, Leonard Kraditor (Joaquin Phoenix), é apresentado a Sandra Cohen (Vanessa Shaw) uma jovem rapariga, apaixonada secretamente por Leonard e filha de um magnata das lavandarias nova-iorquinas, um negócio já partilhado pelo pai de Leonard. Um futuro entre os dois seria brilhante. Ela ama-o incondicionalmente e as empresas das famílas acabariam por se fundir, criando uma cadeia de lavandarias espalhadas por toda a idade de Nova Iorque. Os interesses começam a sobrepor-se aos sentimentos. Mas, tudo seria mais fácil se, num acaso (feliz), Leonard não travasse conhecimento com a sua vizinha Michellle (Gwyneth Paltrow), uma jovem e bela rapariga que alimenta uma preocupante relação com um homem casado. Ao aperceber-se das fragilidades da relação de Michelle, Lenoard não tarda com a sua investida para a conquistar, não querendo simultâneamente desfazer-se do amor que Sandra nutre por ele. E assim é "Dois Amantes", que na verdade são três, um quase inevitável triângulo amoroso onde Leonard se encontra bem no centro da acção. Só a ele cabe a decisão. Optar pelo que o coração sente ou pelo que é melhor para todos. E quanto a nós, cabe-nos esperar e deixarmo-nos envolver por uma bela história, bem filmada, bem dirigida, bem interpretada e de uma verdade profunda.
Cedo se notabilizou com os primeiros filmes que realizou, desde "Sexo, Mentiras e Vídeo" (1989), passando por "Kafka" (1991) até "Erin Brockovich" (2000). Soderbergh sempre deu provas suficientes do bom trabalho que faz, especialmente com este último onde vemos uma belíssima Julia Roberts num dos melhores e mais bem interpretados papéis da sua carreira, não descorando filmes que entretanto surgiram e que, da mesma forma, contribuíram para a afirmação de Soderbergh, entre eles "Gray's Anatomy" (1996) e "Schizopolis" (1996).
O primeiro filme que encontramos sob esta perspectiva (Soderberghiana, dir-se-á) foi "Full Frontal" - "Vidas a Nú" (2002). Por enquanto, este foi o único filme experimental de Soderbergh a chegar às salas de Cinema Portuguesas. Às tantas, a experiência (de o estrear em Portugal) correu tão mal que se deixaram de fazer mais isso - é uma plausível explicação. Curiosamente, a primeira vez que vi o filme foi através da RTP que, vá lá saber-se porquê, passaram o filme numa bela noite de Verão há 4 ou 5 anos atrás. Mais tarde, encontro o filme à venda em DVD num dos nossos hipermercados e foi assim que o consegui rever - entretanto já o revi outra vez para escrever este pequeno parágrafo - já que as epifanias da televisão portuguesa são de muito pouca dura - já houve tempos muito melhores, já...
O segundo filme que aqui também gostava de referir é "Bubble" (2005). É um desgosto enorme não termos tido este filme nas nossas salas e ainda é um desgosto maior não o encontrarmos disponível no mercado de DVD nacional - pelo menos eu não encontrei. Mas também é difícil de o encontrarmos à venda em qualquer loja lá fora. Para quem se interessar, aconselho a procurar no Amazon porque foi lá que o encontrei.
Por último, resta-me fazer uma pequena referência à última experiência de Soderbergh, estreada há muito pouco tempo, "The Girlfriend Experience" (2009) - uma vez mais procurem no Amazon se estiverem interessados porque por cá não o encontram. Na verdade este foi o filme que me levou a escrever todo este texto ainda que, inicialmente, não previa que se tornasse assim tão extenso... Foi um mote suficiente para me fazer rever a obra do realizador e que é, sem dúvida alguma, exemplar. Note-se que no meio de grandes produções hollywoodescas, Soderbergh consegue, por um lado, impingir o autor que é em pequenos aspectos dessas grandes produções e depois surge em grande, com o que verdadeiramente sente necessidade de fazer, e traz-nos assim o seu cinema, as suas tão peculiares experiências.

Mais informação no blogue do musical Piaf aqui ou pelo endereço http://www.piaf-omusical.blogspot.com/
